A Internacional: o hino do 1º de Maio
Publicado: 03 Maio, 2010 - 12h51
Texto: Ruy Belm (Professor de Histria da UFS)
Aluta dos trabalhadores contra a explorao capitalista e em favor da instituio de uma sociedade dominada pela justia social e democrtica, socialista, no se limitou a ao poltica, no sentido mais estrito do termo, pois ela envolveu os diversos aspectos da vida dos trabalhadores, sendo a arte um desses aspectos.
Leon Trotsky ao escrever sobre As questes do modo de vida, afirmou que o homem no vive s de poltica. A afirmao decorria de sua preocupao em chamar a ateno dos partidrios da revoluo para refletir sobre a cultura e a vida cotidiana dos trabalhadores. Com esta preocupao, Trotsky escreveu sobre literatura, cinema, jornalismo e outras exterioridades da
vida.
A afirmao feita por Trotsky me inspirou a escrever um artigo em reverncia ao 1 de Maio, dia internacional de luta dos trabalhadores, buscando refletir sobre um aspecto da arte produzida pela classe operria. E entre as diversas manifestaes artsticas est a poesia e as canes, instrumentos de revelao do simblico, bastante utilizadas para transmitir o iderio de luta dos operrios..
A iniciativa deste artigo leva em conta a perspectiva poltica colocada por Foucault, Cheisnaux, Hobsbawm e outros, sobre a importncia de relembrar coisas do passado vinculadas histria da classe trabalhadora, pois elas podem servir para instrumentalizar as luta futuras.
A literatura de esquerda geralmente rotula as poesias musicadas originrias de um contexto de enfrentamento poltico de classe como canes revolucionrias ou msicas de protesto.
Ao longo da histria do movimento trabalhista vrias foram as poesias que se transformaram em canes revolucionrias, as quais tinham como objetivo, ainda que no declarado, inculcar valores pertinentes ao movimento nas mentes do pblico alvo. Entre essas canes, citamos: A Internacional, La Bandeira Rossa, El povo unido jams ser vencido, The red flag. No Brasil, as msicas de protesto (resistncias) ditadura militar comumente so inclusas entre as canes revolucionrias, a exemplo da composta por Geraldo Vandr, Pra dizer que no falei das flores (Caminhando e Cantando).
Contudo, em 1871, uma delas se transformou na cano hino do movimento trabalhista mundial, A Internacional, poema escrito pelo militante anarquista francs Eugne Pottier, participante da Comuna de Paris. Esse poema foi musicado por Pierre Degeytter, para ser cantado por um coral formado por operrios da cidade Lille, Frana, passando, da em diante, a ser entoado em diversas atividades de luta dos trabalhadores europeus, e especialmente nas comemoraes de 1 de Maio. Em 1910, no Congresso da II Internacional, a A Internacional foi consagrada tradicionalmente como o hino internacional da classe trabalhadora.
A deciso da II Internacional estimulou a criao de uma tradio do movimento dos trabalhadores, na medida em que se tornou costumeiro cantar A Internacional nos principais eventos militantes da classe operria, fato que nos estimula a classific-lo como uma tradio inventada, por entendermos que a sua repetio se transformou em uma prtica de natureza ritual e simblica, que visa inculcar certos valores e normas de comportamento atravs da repetio, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relao ao passado.
Visando inculcar valores coerentes com o iderio do trabalhismo revolucionrio, o poema denuncia os males que afligia e afligem a classe trabalhadora em contrastes com a vida nababesca levada pela burguesia, ao mesmo tempo que convoca a classe trabalhadora a lutar para pr o fim a misria que os atinge. O estribilho da o norte da poesia, pois faz a convocao para a unidade dos trabalhadores para a revoluo.
Bem unidos faamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional.
A denncia se estende ao do Estado, pois segundo o autor, o Estado atua como o protetor dos burgueses, pois encobre o crime do rico, enquanto esmaga o oprimido,
No h direito para o pobre, ao rico tudo permitido.
Chama a ateno para a alienao dos trabalhadores ao mesmo tempo em que refora a necessidade de unio entre os trabalhadores, convocando a classe trabalhadora para declarar guerra ao patronato:
Ns fomos de fumo embriagados,
Paz entre ns, guerra aos senhores,
Fazemos greve de soldados,
Somos irmos trabalhadores.
A Internacional divulgava princpios bsicos do pensamento revolucionrio dos trabalhadores no final do sculo XIX e incio do sculo XX a revoluo e o carter internacionalismo. Tanto anarquistas como comunistas comungavam os dois princpios. Eles estavam presentes na obra de Bakunin e na obra de Karl Marx e F. Engels. O internacionalismo ficou evidente na convocatria final do Manifesto Comunista: Trabalhadores do mundo, uni-vos.
O hino A Internacional chegou ao Brasil trazida pelos migrantes europeus que vieram compor a fora de trabalho do pas. Junto com ela, vieram as diversas formas de organizaes dos trabalhadores. Em 1909, A Internacional foi traduzida para o portugus pelo trabalhador anarcosindicalista Neno Vasko, tornando-se acessvel ao trabalhador brasileiro. Boletins, jornais e panfletos passaram a divulgar o hino, agora entoado em eventos trabalhistas, apesar de ser fortemente censurada pelo Estado e pela Igreja Catlica., pois tais estrofes causariam arrepios na pele das autoridades.
Durante a ditadura militar, que governou o Brasil de 1964 a 1986, o canto da Internacional quase desapareceu dos movimentos dos trabalhadores em virtude da represso, voltando a ser cantada, na dcada de 80, com o ressurgimento pblico das organizaes de trabalhadores, que rompiam as correntes do autoritarismo e derrotavam as direes sindicais pelegas. As manifestaes de trabalhadores voltavam a expor seus smbolos, bandeiras vermelhas e suas canes, em especial A Internacional.
Em Sergipe, no se tem registro de sua primeira declamao publica ou sua impresso. Mas, tudo indica que a cano era de conhecimento dos trabalhadores sergipanos, pois jornais operrios editados em nosso Estado publicaram textos que expunham princpios do movimento trabalhista, como o internacionalismo. E era de conhecimento dos trabalhadores as obras escritas por Neno Vasko, o tradutor da A Internacional.
Na dcada de 80, com o ressurgimento do sindicalismo combativo no Brasil, a Internacional voltou a ser cantadas em concentraes de trabalhadores, em especial, nas comemoraes do Dia dos Trabalhadores. A tradio voltava a ser cumprida, na medida em que a Central nica dos Trabalhadores, CUT, orientava aos sindicatos filiados cantarem o hino nas festas de 1 de Maio.
Em Sergipe, ouvir a A Internacional no 1 de Maio se tornou costume, porem, no podemos afirmar que o hino dos trabalhadores se transformou em um canto de massa, pois s ficou limitada a poucos.
Entretanto, interessante ressaltar que alguns sindicatos tentam manter a tradio nascida no incio do sculo XX pela classe trabalhadora, cantando A Internacional em seus principais eventos. O SINTESE um deles, pois nos principais eventos da categoria dos professores, como o Congresso, o hino dos trabalhadores entoado com toda a pompa e o seu texto distribudo entre os presentes.
Sem dvida, a tradio inventada pelos trabalhadores do canto de A Internacionalcomo seu hino cumpriu o seu papel, pois essa tradio contribuiu para estabelecer a relao entre os diversos momentos de lutas dos trabalhadores, ao mesmo tempo que divulgou, de forma simples, a idia da revoluo e do internacionalismo, o que causou furor repressivo da burguesia e de seus aliados.
No entanto, como toda a criao humana pode sofrer o fenmeno do esquecimento, observamos estar ocorrendo esse fenmeno com A Internacional, pois o cantar do hino j no marca as principais manifestaes da classe trabalhadora. Por isso encerramos com a interrogao. Ser que a tradio inventada pelos trabalhadores est a desaparecer?
Aluta dos trabalhadores contra a explorao capitalista e em favor da instituio de uma sociedade dominada pela justia social e democrtica, socialista, no se limitou a ao poltica, no sentido mais estrito do termo, pois ela envolveu os diversos aspectos da vida dos trabalhadores, sendo a arte um desses aspectos.
Leon Trotsky ao escrever sobre As questes do modo de vida, afirmou que o homem no vive s de poltica. A afirmao decorria de sua preocupao em chamar a ateno dos partidrios da revoluo para refletir sobre a cultura e a vida cotidiana dos trabalhadores. Com esta preocupao, Trotsky escreveu sobre literatura, cinema, jornalismo e outras exterioridades da
vida.
A afirmao feita por Trotsky me inspirou a escrever um artigo em reverncia ao 1 de Maio, dia internacional de luta dos trabalhadores, buscando refletir sobre um aspecto da arte produzida pela classe operria. E entre as diversas manifestaes artsticas est a poesia e as canes, instrumentos de revelao do simblico, bastante utilizadas para transmitir o iderio de luta dos operrios..
A iniciativa deste artigo leva em conta a perspectiva poltica colocada por Foucault, Cheisnaux, Hobsbawm e outros, sobre a importncia de relembrar coisas do passado vinculadas histria da classe trabalhadora, pois elas podem servir para instrumentalizar as luta futuras.
A literatura de esquerda geralmente rotula as poesias musicadas originrias de um contexto de enfrentamento poltico de classe como canes revolucionrias ou msicas de protesto.
Ao longo da histria do movimento trabalhista vrias foram as poesias que se transformaram em canes revolucionrias, as quais tinham como objetivo, ainda que no declarado, inculcar valores pertinentes ao movimento nas mentes do pblico alvo. Entre essas canes, citamos: A Internacional, La Bandeira Rossa, El povo unido jams ser vencido, The red flag. No Brasil, as msicas de protesto (resistncias) ditadura militar comumente so inclusas entre as canes revolucionrias, a exemplo da composta por Geraldo Vandr, Pra dizer que no falei das flores (Caminhando e Cantando).
Contudo, em 1871, uma delas se transformou na cano hino do movimento trabalhista mundial, A Internacional, poema escrito pelo militante anarquista francs Eugne Pottier, participante da Comuna de Paris. Esse poema foi musicado por Pierre Degeytter, para ser cantado por um coral formado por operrios da cidade Lille, Frana, passando, da em diante, a ser entoado em diversas atividades de luta dos trabalhadores europeus, e especialmente nas comemoraes de 1 de Maio. Em 1910, no Congresso da II Internacional, a A Internacional foi consagrada tradicionalmente como o hino internacional da classe trabalhadora.
A deciso da II Internacional estimulou a criao de uma tradio do movimento dos trabalhadores, na medida em que se tornou costumeiro cantar A Internacional nos principais eventos militantes da classe operria, fato que nos estimula a classific-lo como uma tradio inventada, por entendermos que a sua repetio se transformou em uma prtica de natureza ritual e simblica, que visa inculcar certos valores e normas de comportamento atravs da repetio, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relao ao passado.
Visando inculcar valores coerentes com o iderio do trabalhismo revolucionrio, o poema denuncia os males que afligia e afligem a classe trabalhadora em contrastes com a vida nababesca levada pela burguesia, ao mesmo tempo que convoca a classe trabalhadora a lutar para pr o fim a misria que os atinge. O estribilho da o norte da poesia, pois faz a convocao para a unidade dos trabalhadores para a revoluo.
Bem unidos faamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional.
A denncia se estende ao do Estado, pois segundo o autor, o Estado atua como o protetor dos burgueses, pois encobre o crime do rico, enquanto esmaga o oprimido,
No h direito para o pobre, ao rico tudo permitido.
Chama a ateno para a alienao dos trabalhadores ao mesmo tempo em que refora a necessidade de unio entre os trabalhadores, convocando a classe trabalhadora para declarar guerra ao patronato:
Ns fomos de fumo embriagados,
Paz entre ns, guerra aos senhores,
Fazemos greve de soldados,
Somos irmos trabalhadores.
A Internacional divulgava princpios bsicos do pensamento revolucionrio dos trabalhadores no final do sculo XIX e incio do sculo XX a revoluo e o carter internacionalismo. Tanto anarquistas como comunistas comungavam os dois princpios. Eles estavam presentes na obra de Bakunin e na obra de Karl Marx e F. Engels. O internacionalismo ficou evidente na convocatria final do Manifesto Comunista: Trabalhadores do mundo, uni-vos.
O hino A Internacional chegou ao Brasil trazida pelos migrantes europeus que vieram compor a fora de trabalho do pas. Junto com ela, vieram as diversas formas de organizaes dos trabalhadores. Em 1909, A Internacional foi traduzida para o portugus pelo trabalhador anarcosindicalista Neno Vasko, tornando-se acessvel ao trabalhador brasileiro. Boletins, jornais e panfletos passaram a divulgar o hino, agora entoado em eventos trabalhistas, apesar de ser fortemente censurada pelo Estado e pela Igreja Catlica., pois tais estrofes causariam arrepios na pele das autoridades.
Durante a ditadura militar, que governou o Brasil de 1964 a 1986, o canto da Internacional quase desapareceu dos movimentos dos trabalhadores em virtude da represso, voltando a ser cantada, na dcada de 80, com o ressurgimento pblico das organizaes de trabalhadores, que rompiam as correntes do autoritarismo e derrotavam as direes sindicais pelegas. As manifestaes de trabalhadores voltavam a expor seus smbolos, bandeiras vermelhas e suas canes, em especial A Internacional.
Em Sergipe, no se tem registro de sua primeira declamao publica ou sua impresso. Mas, tudo indica que a cano era de conhecimento dos trabalhadores sergipanos, pois jornais operrios editados em nosso Estado publicaram textos que expunham princpios do movimento trabalhista, como o internacionalismo. E era de conhecimento dos trabalhadores as obras escritas por Neno Vasko, o tradutor da A Internacional.
Na dcada de 80, com o ressurgimento do sindicalismo combativo no Brasil, a Internacional voltou a ser cantadas em concentraes de trabalhadores, em especial, nas comemoraes do Dia dos Trabalhadores. A tradio voltava a ser cumprida, na medida em que a Central nica dos Trabalhadores, CUT, orientava aos sindicatos filiados cantarem o hino nas festas de 1 de Maio.
Em Sergipe, ouvir a A Internacional no 1 de Maio se tornou costume, porem, no podemos afirmar que o hino dos trabalhadores se transformou em um canto de massa, pois s ficou limitada a poucos.
Entretanto, interessante ressaltar que alguns sindicatos tentam manter a tradio nascida no incio do sculo XX pela classe trabalhadora, cantando A Internacional em seus principais eventos. O SINTESE um deles, pois nos principais eventos da categoria dos professores, como o Congresso, o hino dos trabalhadores entoado com toda a pompa e o seu texto distribudo entre os presentes.
Sem dvida, a tradio inventada pelos trabalhadores do canto de A Internacionalcomo seu hino cumpriu o seu papel, pois essa tradio contribuiu para estabelecer a relao entre os diversos momentos de lutas dos trabalhadores, ao mesmo tempo que divulgou, de forma simples, a idia da revoluo e do internacionalismo, o que causou furor repressivo da burguesia e de seus aliados.
No entanto, como toda a criao humana pode sofrer o fenmeno do esquecimento, observamos estar ocorrendo esse fenmeno com A Internacional, pois o cantar do hino j no marca as principais manifestaes da classe trabalhadora. Por isso encerramos com a interrogao. Ser que a tradio inventada pelos trabalhadores est a desaparecer?