Marighella, herói do povo brasileiro
Publicado: 07 Dezembro, 2011 - 15h18
H 100 anos, em 5 de dezembro, nascia Carlos Marighella. Sua presena vai ganhando fora nos coraes e mentes dos jovens lutadores populares, mesmo aps 42 anos em que tombou numa covarde emboscada da ditadura.
Como a histria das revolues no sculo 20 comprovou, existe uma memria coletiva sempre presente, pronta para despertar quando necessitamos de suas energias para enfrentar o que tambm aparentemente era impossvel at ento.
Jos Marti, o autor intelectual da Revoluo Cubana, segundo Fidel Castro, Augusto Csar Sandino, o General dos Homens Livres renascido na Revoluo Sandinista, Emiliano Zapata empunhado como bandeira no levante das selvas mexicanas que estragou a festa comemorativa do incio do NAFTA (Tratado de Livre Comrcio entre os EUA, Canad e Mxico), Simon Bolvar cuja espada foi ousadamente resgatada numa ao guerrilheira e depois devolvida, renascendo no processo revolucionrio venezuelano e na construo da Aliana Bolivariana para as Amricas (Alba). So vrios os exemplos. Assim, a histria das transformaes sociais em nosso continente configura a prova contundente da importncia do resgate da continuidade na construo da identidade da luta do povo.
Em todos estes casos, no foi apenas o exemplo e o herosmo que inspiraram as novas geraes a dar continuidade luta. Alm da fora extrada do sentimento de continuidade, o resgate oportuno de cada heri forneceu ensinamentos concretos e, muitas vezes, contribuies tericas essenciais aos desafios enfrentados.
Eis porque o significado de Carlos Marighella se agiganta com o tempo, impossibilitando a indiferena. Da mesma forma, a ditadura militar segue sendo o trauma central de nossa histria. As eleies de 2010 e o atual debate sobre a Comisso da Verdade confirmam essa afirmao. Paixes, dios, tenses e rancores vm tona quando a nao se depara com a escolha de seu destino.
Carlos Marighella a expresso mais radical e coerente deste momento no superado em nossa histria.
A fora do heri a fora da coerncia. Assumir as conseqncias, por maiores que surjam, para defender o direito verdade.
Carlos Marighella combinou os diversos talentos como quadro organizador, propagandista e agitador. Foi um dirigente partidrio, um comandante guerrilheiro, um terico e dono de uma coerncia capaz de assumir todas as conseqncias de seus atos. Como bom militante, seus textos foram elaborados para enfrentar problemas e desafios concretos que se colocavam para a luta popular. Como revolucionrio dedicou-se em cada tarefa que a revoluo apresentou: tribuno parlamentar na Assembleia Constituinte; agitador em comcios e assembleias, redator de panfletos e artigos, editor, organizador sindical, formador de quadros, guerrilheiro e terico militar.
Enfrentou a tortura, supremo tormento que aflige todo militante, e escreveu Se fores preso camarada!, orientando como se deve comportar ante o inimigo. Baleado pela ditadura, soube converter a tragdia numa ao de agitao e propaganda desmascarando o regime. Colocado ante o desafio das armas escreveu um texto que at hoje estudado por academias militares pelo mundo. Caado como inimigo pblico nmero um da Ditadura Militar, com a foto estampada em cartazes e revistas por todo o pas, vivenciou todas as tcnicas da clandestinidade, a privao do convvio com o filho e a famlia at a emboscada dos que se iludiram que podiam elimin-lo.
Seus textos e anlises seguem fornecendo ensinamentos e conceitos atuais. Com eles aprendemos a construir alianas sem nos subordinarmos, a ter clareza na identificao do inimigo, a confiar na causa do povo.
O legado de Marighella a ser resgatado e reinventado hoje a construo de um Projeto Popular para o Brasil e a capacidade de concentrar-se na conquista do poder, enfrentando as impossibilidades, por maiores que se coloquem, sem desviar um milmetro deste objetivo.
Renascido nas paredes dos muros, no rap de Mano Brown que percorre as periferias das grandes cidades, nas palavras de ordem, sua imagem segue se agigantando, nos dotando de sentido e identidade para lutar com a mesma coerncia.
Que no se surpreendam os inimigos do povo. O novo sempre saber retirar suas energias do passado. A juventude que se esfora em enfrentar os anos difceis desta ofensiva neoliberal ser a herdeira desta coerncia e capacidade de luta.
Com certeza, outros Marighellas viro!
Fonte: Editorial ed. 458 - BRASIL de FATO