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Artigo

O BE-A-BÁ DO BRASIL

Publicado: 12 Fevereiro, 2018 - 11h16

 

 

Eu quero um banho de cheiro

Eu quero um banho de lua

Eu quero navegar

Eu quero uma menina

Que me ensine noite e dia

O valor do bê-a-bá

(...)

O beabá do sertão

Sem chover, sem colher, sem comer, sem lazer

O beabá do Brasil.

(Carlos Fernando/Por Elba Rammalho)

 

 

Do Be-a-bá político brasileiro desejam, alguns (in)determinados sujeitos, excluir do léxico e do ideário popular imprescindíveis “E”s de possibilidades. E fazem isso até com espantosa facilidade. A começar pelo “E” de esquerda, passando pelo “E” de esperança e chegando ao “E” de entusiasmo com a política - enquanto único caminho possível para a equalização e, quiçá, resolução dos diversos problemas imbricados na complexa questão social brasileira e nos dilemas dessa tão acossada democracia.

 

Apesar da prazerosa euforia desses dias festivos de carnaval, do desejo excitado e quase incontrolável de banho de cheiro, banho de lua, da magia, da folia, dos filhos de Gandhi, nesse momento, também é preciso navegar por mares menos afáveis.

 

É preciso pensar nessa luta do rochedo contra o mar no cenário de um ano eleitoral pós-golpe, em que se abate sobre parte do povo o temor da prisão da maior liderança política do país, LULA, que, provavelmente, terá sua candidatura impedida pelo Judiciário na eleição desse ano, o que causará confusão e receios profundos em parte significativa do eleitorado, ademais pelo fato de não haver, por enquanto, o plano “B”, ou seja, uma candidatura substituta à de LULA, capaz de entusiasmar o povo e promover a unificação das forças progressistas.

 

Além disso, nessa encruzilhada histórica, o que esperar do processo eleitoral de um país cujo Supremo Tribunal Federal assentiu com um golpe de estado e com uma vulgar relativização material de princípios jurídicos fundamentais, permitindo uma condenação criminal sem lastro probatório nenhum contra um ex-presidente da República?

 

Sem dizer do acirramento de um discurso protofacista, de uma direita antinacional (travestida de nacionalismo que bate continência à bandeira americana), desprendida de alicerces éticos humanistas e, portanto, de compromissos civilizatórios minimamente convergentes com a realização do bem comum, a repercutir através da mídia e vicejar nas mentes e corações de parte da sociedade as mortes da esquerda - enquanto conjunto de ideias factíveis que persegue a efetivação de uma justiça social; da esperança - enquanto sentimento catalisador de escolhas e ações concretas para a modificação da perversa estrutura que sustenta a desigualdade e os privilégios de algumas castas no Brasil, e do entusiasmo com a política – traduzido na efetiva participação da população exercendo sua soberania nos processos políticos decisórios.

 

Assim, quanto mais fragilizada, desagregada, descrente, apática e conformada estiver a população, mais facilmente os “poderosos” manipulam para manterem-se proprietários do poder, e, por que não dizer, dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

 

Semeiam ventos vis nas suas disputas egoístas pela expropriação da res pública, seja através de mecanismos como a corrupção ativa e passiva, o tráfico de influência, o governo de coalisão, seja por meios legais, “legítimos” e institucionais como auxílios-moradias para quem tem muitas moradias e todos os outros ultrajantes privilégios, para nos deixar reféns de tempestades brutais, isto é, da miséria, da violência, do desemprego em massa, da reforma trabalhista e reforma da previdência, por exemplo.

 

Não há como omitir: o país está em catarse. E a definição dos malandros e heróis nesse carnaval da política eleitoral brasileira será decisiva. Marx, no livro 18 do Brumário de Luis Bonaparte, afirma que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados duas vezes: a primeira, como tragédia, a segunda como farsa.

 

Conta ainda uma interessante e muito apropriada anedota do Concílio de Constança onde o cardeal Pierre d’Ailly respondeu aos defensores da reforma dos costumes: “O único que ainda pode salvar a Igreja católica é o diabo em pessoa e vós rogais por anjos”.

 

Talvez, nesse caso, a graça da metáfora esteja na desmistificação do moralismo roto, do moralismo sem moral de alguns personagens que a grande mídia tenta inculcar na sociedade como anjos salvadores do Brasil, justiceiros e vingadores (MORO, BOLSONARO, HUCK, JOAQUIM BARBOSA, ALCKMIN e essa turma festejada), enquanto demoniza a figura de LULA e da ESQUERDA.

 

Decerto, não podemos encarar a política como um jogo maniqueísta. É preciso encarar as dificuldades da realidade, sem os véus do proselitismo. E, para não perder de vista a ideia inicial do texto, vide a lembrança de mais um “É”. É, Gonzaguinha! É!

 

A gente não tem cara de panaca

A gente não tem jeito de babaca

A gente não está

Com a bunda exposta na janela

Prá passar a mão nela...

 

É!

A gente quer viver pleno direito

A gente quer viver todo respeito

A gente quer viver uma nação

A gente quer é ser um cidadão...