Escrito por: Iracema Corso

8 de Março será de luta em defesa das catadoras de mangaba de Aracaju

Neste ano a luta é pela vida de todas as mulheres, fora Bolsonaro e por um Brasil sem machismo, racismo e fome

O Dia Internacional da Mulher, marcado por protestos em todo o mundo na data de 8 de março, próxima terça-feira, terá manifestação de apoio à comunidade tradicional extrativista da mangaba do Santa Maria, no bairro 17 de Março, em Aracaju.

No dia 20 de dezembro de 2021, o prefeito Edvaldo Nogueira fez o lançamento da construção de um conjunto habitacional na região e assim houve a intensificação da derrubada dos pés de mangaba e de diversas frutas ameaçando o sustento de famílias extrativistas que há décadas trabalham ali.

Segundo o senhor Uilson de Sá da Silva, presidente da Associação de Catadoras e Catadores de Mangaba Padre Luiz Lemper, o processo contra a derrubada das árvores na região ainda está tramitando na Justiça, mas enquanto isso, o trator não para de derrubar as árvores na região onde originalmente existiam milhares de pés de fruta.

“Nossa luta é pelo meio ambiente e moradia digna. Muitos não entenderam ainda o que significa viver em harmonia com a natureza. Assim as mulheres da nossa comunidade que gritam por respeito não é só para si, mas para nós”, afirmou o senhor Uilson.

Segundo a secretária da Mulher da Central Única dos Trabalhadores (CUT/SE), Cláudia Oliveira, catadoras de mangaba de todo o estado de Sergipe vão participar do protesto no dia 8 de março.

“No dia 8 de março, no Fórum de Mulheres escolhemos um ponto de luta das mulheres de Sergipe que é a preservação do sustento das catadoras de mangaba de Aracaju. Nesta reserva extrativista está uma parte da história da nossa cidade, uma parte da nossa cultura e do meio ambiente. E outras mulheres, catadoras de mangaba de outras regiões de Sergipe, vão participar enquanto mulheres e enquanto catadoras de mangaba para fortalecer esta luta”, explicou Cláudia Oliveira.

Secretária de Organização e Política Sindical da CUT Sergipe, Joelma Dias reafirmou a necessidade de vencer a tristeza, o medo, o desânimo e o desespero frente à derrubada das árvores e continuar a luta. “Precisamos ser resistentes com tudo isso que acontece, curar as feridas e seguir a luta. A gente não pode desistir nunca. E daqui para frente, melhorar. Como diz Paulo Freire: temos que esperançar. Isso é sobre nossa própria vida no planeta Terra”, refletiu.

Para dar continuidade à luta pela preservação da única comunidade extrativista da mangaba de Aracaju, o Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) lançará a Campanha SOS Mangabeiras no fim do protesto do dia 8 de março, em frente ao CRASS do bairro 17 de Março.

Antes disso, ainda nesta semana, mais duas atividades que integram a agenda de construção da manifestação. No próximo sábado, dia 5 de março, às 7h30 da manhã, acontecerá o Café da Manhã Partilhado. Veja o convite:

“A comunidade tradicional extrativista da mangaba do Santa Maria em Aracaju e a Associação de Catadoras e Catadoras de Mangaba Padre Luiz Lemper convidam a todas e todos para participar do café comunitário que será realizado no próximo sábado, 05 de março, a partir das 07h30min”. Tod@s interessados em participar do Café Partilhado devem levar algum alimento e a atividade será na área de Dona Zenaide. Acesso pela avenida lateral do 17 de março.
No domingo, dia 6 de março, pela manhã, haverá panfletagem na Feira do bairro 17 de Março.

Por um Brasil sem machismo, racismo e fome

O panfleto em construção que será distribuído no dia 8 de março denuncia que o Brasil é o 5º país no mundo que mais mata mulheres e o 1º que mais assassina pessoas trans. Assim como a fome, a miséria, o genocídio racista, a violência no campo contra populações indígenas e quilombolas, destruição do meio ambiente e o crescimento do agronegócio que resultam de uma política misógina de descaso com a vida. Desta forma, a fome atingiu 19 milhões de brasileiros nos últimos dois anos e mais de 650 mil vidas foram perdidas pela COVID-19.

“Diante desse cenário, somos nós, mulheres, sobretudo mulheres negras, as mais afetadas: somos nós as mais exploradas e expostas aos riscos da pandemia e do modelo econômico capitalista, sendo linha de frente nos serviços básicos e no trabalho doméstico, as que choram pelo genocídio dos nossos filhos pretos; pela fome e a miséria”, afirma o manifesto que assinala o compromisso em continuar a luta unificada pelo bem viver de todas as mulheres.