Ato denuncia humilhação no atendimento à população em situação de rua de Aracaju
Publicado: 09 Janeiro, 2024 - 17h20 | Última modificação: 09 Janeiro, 2024 - 18h05
Escrito por: Iracema Corso

Dia histórico de luta por mais dignidade para a população em situação de rua de Aracaju, assim foi a segunda-feira, dia 8 de janeiro, data do protesto e Café da Manhã na porta do Centro Pop (Centro Especializado para Pessoas em Situações de Rua) para cobrar a reabertura do local de atendimento e acolhimento humanizado para a população em situação de rua.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT Sergipe) e sindicatos filiados participaram da manifestação levando o apoio do movimento sindical nesta luta por melhorias no tratamento da população em situação de rua.
O protesto foi desencadeado pelo fechamento do Centro Pop no dia 15 de dezembro deixando a população em situação de rua sem assistência, alimentação, banho e acolhimento para dormir. A unidade de assistência social que se manteve aberta para distribuir almoço e café da manhã foi o Freitas Brandão, no bairro Suíssa.
Moradores e moradoras em situação de rua relataram que muitos desistiam de caminhar do Centro até o bairro Suíssa (12km por dia) para receber a quentinha na porta do Freitas Brandão, sem ter uma mesa para se alimentar e nem um banheiro para fazer higiene pessoal.
Roberto Silva, presidente da CUT Sergipe, criticou a decisão de fechar o Centro Pop no dia 15 de dezembro e manter as portas fechadas até o início de janeiro. “Isso é um absurdo. Estamos, junto à Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Aracaju, dando este apoio à luta das pessoas em situação de rua, diante da negligência da Prefeitura de Aracaju que fechou o Centro Pop e deixou a população desassistida, em condição de vulnerabilidade total, isso é desumano e é um desrespeito”, criticou Roberto Silva.
Marcos da Pastoral do Povo de Rua apontou que, para camuflar a desassistência, no dia do protesto, o Centro Pop abriu as portas e até serviu quentinhas de café da manhã para os moradores em situação de rua que estavam na porta cobrando atendimento humanizado.
“O Centro Pop é o local de referência, é a porta de entrada para todas as políticas públicas destinadas à população em situação de rua. Por isso não pode fechar as portas do Centro Pop sem organizar outras formas de acolhimento e de atendimento. A população em situação de rua não pode ficar desassistida. Nos informaram que fecharam pra reforma, mas não vimos reforma nenhuma. O prédio continua em péssimo estado e com um vazamento de água que gera a conta mensal de R$ 25 mil. O pior é que é um prédio alugado. Não entendemos o sentido de continuar neste prédio cheio de problema e que não atende à população em situação de rua. Queremos transparência da gestão”, criticou Marcos.
Realidade da população em situação de rua
Marcos da Pastoral do Povo de Rua informou, a partir de dados do CADúnico, que existem mais de mil pessoas em situação de rua em Aracaju. As unidades de atendimento para esta população são o Centro Pop (Centro), a Casa de Passagem Municipal (Salgado Filho), o Freitas Brandão (Suissa) e o Serviço de Abordagem Social.
As moradoras e os moradores em situação de rua criticam a insalubridade dos banheiros nestes locais de acolhimento, a falta de mesas, cadeiras e de ventilador no refeitório (serve 80 pessoas, mas só possui 4 mesas) a falta de separação entre mulheres, homens e crianças nos dormitórios, o banho dos idosos que é dado no pátio sem que haja privacidade. A cobrança geral é por atendimento humanizado para a população em situação de rua.
“Não temos direito a uma janta, não temos direito a lavar as roupas, guardar os pertences. Queremos emprego, auxílio moradia e um programa de habitação para a população em situação de rua”, declarou um morador em situação de rua durante o protesto, ele preferiu não dizer seu nome por medo de sofrer represália.
Um morador em situação de rua reclamou que sofreu perseguição homofóbica em unidade de assistência social, mas ao invés do problema resolvido, ele é que foi transferido para duas outras unidades e, por falta do medicamento controlado que utiliza, acabou tendo um surto psicótico e foi desligado das unidades de acolhimento e agora está nas ruas sem assistência.
“O Governo de Sergipe e a Prefeitura de Aracaju negligenciam a população em situação de rua o tempo todo. Em 2023 aconteceu uma ação truculenta de ‘higienização’ no Centro de Aracaju com tomada de documentos e de pertences da população de rua. Agradecemos o apoio do movimento sindical e precisamos nos unir para protestar. Não aceitamos mais violência nem mais humilhação, queremos que sejam cumpridos nossos direitos e condições de habitação e emprego para a população em situação de rua”, declarou Marcos da Pastoral do Povo de Rua.
Atendimento Piorou
Coordenador geral do SINDASSE (Sindicato dos Assistentes Sociais de Sergipe), Ygor Machado cobrou que os moradores em situação de rua sejam ouvidos, cobrou planejamento, transparência e que seja feito concurso público para as unidades de atendimento à população em situação de rua, visto que há grande contingente de trabalhadores terceirizados e Cargos Comissionados.
“Em nome dos trabalhadores do Centro Pop, quero dizer que estamos muito orgulhosos com este protesto da população em situação de rua que está cobrando seus direitos. Aracaju já teve um atendimento de excelência à população em situação de rua, mas este atendimento decaiu nesta gestão municipal. A falta de prioridade com a população em situação de rua é uma marca de Edvaldo Nogueira e da Secretaria de Assistência Social. Nestas condições de insalubridade, não há como retomar o atendimento. Só a luta dos usuários junto com os trabalhadores do Centro Pop pode construir a transformação e a melhoria dos serviços”, declarou Ygor.
Uma moradora em situação de rua revelou que o atendimento piorou muito. “Não temos um banheiro. O antigo Centro Pop era limpo, cheiroso, havia kit de mãe, papel higiênico, já tivemos um bom acolhimento. Hoje o que temos é um espaço cheio de sujeira. Aracaju precisa de banheiros públicos em praças, não só para nós, mas para todas as mulheres, para toda a população. Se é domingo, o morador em situação de rua não tem um prato de comida, não tem como tomar um banho. Falta cama no Centro Pop, e agora estão fechando também nos dias de quinta! Estamos sem assistência. Era normal ganhar uma ceia de natal todo ano no Centro Pop. Hoje não conseguimos nem tomar um banho”, criticou moradora em situação de rua.
A assistente social Rosevania Barbalho da Comunidade Bom Pastor criticou a Prefeitura de Aracaju que não pode tratar a população em situação de rua ‘como se fossem lixo’. “A população de rua merece o melhor. Eles precisam e merecem um Centro Pop digno. Queremos alimentos adequados e que haja mais alimentos para a população em situação de rua. Precisamos de material de higiene, são seres humanos e tem que serem tratados com dignidade”.
A assistente social cobrou uma resposta da Prefeitura sobre o Centro Pop que ficou 15 dias fechado, sob o pretexto de uma reforma. No entanto, ao abrir as portas, a população verificou que não houve reforma alguma.