Escrito por: Iracema Corso, da CUT-SE

Em Aracaju, população se revolta contra demissão de 256 cobradores de ônibus

CUT Sergipe e DIEESE criticam mudanças no sistema de transporte público da capital sergipana que não teve nenhuma discussão ou preocupação social

Reprodução

“A gente olha pra esse cartão de transporte e só lembra dos trabalhadores demitidos”, criticou Quitéria Santos, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Estado de Sergipe (Sindomestico) e da CUT ao comentar o novo cartão de transporte exigido para o pagamento da passagem de ônibus em Aracaju, capital do estado.

A demissão dos 256 cobradores e trabalhadores de empresas de transporte público de Aracaju não se apagou da mente da população. Onde foram parar esses trabalhadores desempregados? Como estão sustentando suas famílias? São algumas perguntas que exigem resposta urgente.

“Eles pensam que a gente não tá vendo que os cobradores ficaram desempregados. Tem muitas famílias passando necessidade. Tem trabalhador passando fome, que foi despejado de sua casa, que teve que levantar um barraco pra sobreviver. O desespero é geral", lamentou a dirigentel.

"Agora é assim, você chega no terminal e encontra os funcionários com uma pilha de cartões. Você carrega com as passagens para poder circular de ônibus. É uma lei torta! Tudo arrebenta com o pobre. Muitos idosos que têm direito à gratuidade ficam abandonados nos pontos de ônibus. A gente sabe que empresários só pensam em lucro, mas a população não pode ficar desamparada”, denunciou Quitéria Santos”, relatou Quitéria Santos.

Uma trabalhadora doméstica cujo familiar trabalha na empresa de transporte público, a Progresso, falou sobre a situação difícil que os trabalhadores estão enfrentando. Com medo de represálias e demissão, ela preferiu não se identificar. Mas expressou sua revolta ao site da CUT Sergipe.

“A empresa Progresso não paga os motoristas em dia. Todo mês atrasa. Meu sobrinho não recebeu nem o 13° e as férias estão vencidas. No meio de uma crise dessas, demitir mais de 170 funcionários. Não tem mais cobrador no ônibus, e agora a gente paga com cartão. Mas o cobrador não desapareceu. Nem ele e nem a sua família. Ele agora é mais um desempregado passando fome”, criticou a trabalhadora doméstica.

REFORMA NO SISTEMA DE TRANSPORTE PÚBLICO SEM DEBATE SOCIAL

Coordenador do Dieese em Sergipe, Luiz Moura criticou a obrigatoriedade do uso do cartão sendo proibido aceitar o pagamento da tarifa em dinheiro. “Uma empresa que presta serviço para a população não pode ficar sem receber pagamento em moeda corrente. Isso é ilegal e só favorece as empresas de ônibus. De acordo com o último estudo que fiz, o salário dos cobradores gera um impacto na tarifa de ônibus correspondente a R$0,20. É claro que não vale a pena demitir tantos pais de família por causa de um valor irrisório”.

Luiz destacou que o usuário paga 3% da tarifa para que o Setransp administre o sistema de transporte quando deveria ser administrado pelo município de Aracaju.

“Se a gestão está comprovadamente inviável para o setor privado, então este serviço deve ser devolvido para o setor público. Vários aeroportos e estradas privatizados, que o setor privado não conseguiu administrar, foram devolvidos para o setor público. Se está sendo demonstrado que as empresas privadas não têm condições de gerir o transporte público de Aracaju porque as linhas são insuficientes, os carros são velhos e há atraso de salário de motoristas, então tem que devolver a administração para o setor público”, defendeu Luiz.

O coordenador do DIEESE questionou também sobre o debate que não aconteceu junto à sociedade sergipana. “Foram mudanças enormes da noite para o dia no sistema de transporte público e não vimos este debate na Câmara de Vereadores. O salário do cobrador incide sobre a tarifa do transporte público. Se não tem mais cobrador, a tarifa vai baixar? Quais benefícios serão trazidos ao usuário do transporte público? Precisamos dessas respostas. Só não dá para aceitar que as mudanças são exclusivamente para beneficiar empresários do setor ignorando os direitos dos usuários e o rastro de desemprego deixado”, criticou Luiz.

A SMTT anunciou que 46 ônibus em 11 linhas já não estão recebendo dinheiro e apenas o cartão de transporte pode ser usado para pagar a passagem.