Escrito por: Iracema Corso
Na manhã da quinta-feira, dia 13 de março, foi realizado o Seminário de Divulgação do Censo da População em Situação de Rua de Aracaju de 2024, no auditório da Emurb, em Aracaju.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT/SE) esteve presente para conhecer o resultado deste trabalho de 2 anos de discussão, planejamento e escuta nas ruas de Aracaju.
“A CUT participou ativamente junto a essas entidades para que este Censo fosse possível. Por isso a divulgação do Censo é um momento de muita alegria, pois ele é o balizador de todas as políticas. Agora sim, a partir daqui, a gente vai ter uma nova luta pela frente para garantir políticas públicas para essas pessoas”, afirmou Roberto Silva, presidente da CUT/SE.
Rosivânia Ramos da Associação Católica Bom Pastor explicou que o grupo de trabalho Censo Pop Rua Aracaju 2024 contou com voluntários para viabilizar a proposta que foi custeada através de uma emenda parlamentar no valor de R$ 50.000 concedida pela então vereadora de Aracaju Linda Brasil (Psol).
“Viemos aqui apresentar esses dados para transformar esta realidade. Antes, a gente falava e parecia que não existia população de rua em Aracaju. Através da escuta, descobrimos que a maioria da população em situação de rua é negra. Tem gente que associa morar na rua à bandidagem e ao tráfico. Descobrimos que o que leva a população para as ruas são razões como: conflitos familiares; a pandemia trouxe uma multidão de desempregados para morar nas ruas; perda de parentes; tem universitário na rua que não gostaria de estar lá. Então temos que acabar com este estigma de bandidos e mudar esta situação”, declarou Rosivânia Ramos.
O combate ao preconceito social contra a população em situação de rua também foi abordado pelo militante da Pastoral do Povo de Rua, Marcos Correia de Carvalho.
“Este é um momento histórico pra gente, nós que estamos no controle social e eu que já fui morador em situação de rua, a gente sabe o que é o olhar de invisibilidade, o que é ter um serviço negado, como é ser maltratado num equipamento, a gente sabe o que é exclusão. Sabíamos quantos cachorros existem nas ruas, quantos gatos, quantas carroças, mas não sabíamos quantas pessoas estavam nas ruas. Venho aqui lembrar que não existe política pública sem investimento financeiro e pessoal, qualificação. Nada sobre nós sem nós”, afirmou Marcos Correia de Carvalho da Pastoral do Povo de Rua.
Dados Importantes
Entre as informações divulgadas no Seminário, o Censo constatou que:
Rosivânia Ramos alertou que a partir das informações divulgadas, é preciso que haja uma mudança efetiva do cotidiano desta população em situação de rua. “Alimentação! A gente viu que a maioria da população em situação de rua come por doação. O mínimo, o básico, é comida. Ninguém sobrevive sem comida. São 623 pessoas que vivem em situação de rua, então como é que 120 quentinhas distribuídas pelo Centro Pop no café da manhã e no almoço vão dar conta dessas pessoas?”, observou Rosivânia Ramos.
Frente aos dados divulgados, só falta vontade política para resolver o problema dessas pessoas. “623 pessoas é pouquíssimo. Isso pode se resolver em 1 ano com atendimento humanizado, uma casa, emprego, curso profissionalizante, alfabetização. Eles têm esse direito, merecem, devem e precisam ser tratados com dignidade, respeito, cuidado e carinho”, declarou a assistente social Rosivânia Ramos da Associação Católica Bom Pastor.
Por uma política municipal para a população de rua
Alisson Oliveira, liderança do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, afirmou que Aracaju não pode continuar sem ter uma política municipal voltada para a população em situação de rua.
Alisson Oliveira citou o decreto 7053, instituído em 2009, por vias da luta do movimento nacional da população de rua junto com a Pastoral dos Catadores, em consequência da Chacina da Praça da Sé em 2004.
“O censo é o mote para que a gente possa instituir a política pública municipal da população de rua, e instituir um censo bienal para que a amostra não seja defasada. O último censo foi em 2009, o outro foi em 2022 e essa foi a necessidade maior de trazer à tona o acolhimento e a finalização. O pessoal não consegue receber auxílio moradia, nem ser introduzido no EJA. Não existe uma política municipal para a população em situação de rua de Aracaju. O que existem são projetos criados sem o diálogo com a população e que são insuficientes para atender à demanda”, afirmou Alisson Oliveira.
O militante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua ressaltou que a partir dos dados concretos do Censo revelando o perfil, quantitativo e quem é a população em situação de rua, então não há mais motivo para que não se avance na criação de uma política municipal de acordo com as reais necessidades que esta população enfrenta diariamente.