CUT/SE discute batalha midiática sindical e Reforma da Previdência
Publicado: 04 Outubro, 2019 - 15h31 | Última modificação: 04 Outubro, 2019 - 15h35
Escrito por: Iracema Corso
Comunicação e Democracia foi o tema que reuniu jornalistas e dirigentes sindicais na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT/SE) para uma noite de importantes debates na quarta-feira, 2/10.
Na oportunidade, a jornalista Iara Moura (Executivo Intervozes) apresentou a pesquisa ‘Vozes Silenciadas - Reforma da Previdência e Mídia’, sobre a cobertura jornalística referente ao tema Reforma da Previdência, em grandes veículos de comunicação da mídia nacional. O publicitário Henrique Pereira (Interlig Propaganda/RS) integrou a programação proferindo a palestra ‘Como disputar a hegemonia em tempos de guerra híbrida e uso de inteligência comunicacional’.
O vice-presidente da CUT/SE, Plínio Pugliesi agradeceu aos palestrantes. “Comunicação social é um assunto tão comentado no dia-a-dia dos sindicatos como um tema desafiador, a disputa de hegemonia, principalmente nos grandes meios de comunicação. Agradeço as presenças e registro a colaboração solidária de Henrique, através de sua empresa que já fez peças de comunicação para a CUT nacional, para a FETAM. Hoje não é um dia fácil para estar aqui, a previdência está sendo desmontada desde ontem no Senado Federal. Não é fácil estarmos perdendo tanto desde o golpe pra cá. Muitos de nós estamos nas ruas desde 2015. Com estratégia de comunicação bem articulada à política sindical, vamos continuar unidos e resistindo”, afirmou.
A partir da autocrítica sobre a forma de fazer comunicação da esquerda e da imprensa, o publicitário que há 25 anos trabalha para a comunicação de movimentos sindicais e sociais abordou a necessidade de ampliar o trabalho tradicional de assessoria de imprensa. “A palavra imprensa vem dum passado, hoje temos um jornalismo numa perspectiva muito mais ampla. Além da fundamental importância do jornalismo, o jornalismo investigativo, hoje precisamos muito mais do que isso, mais do que apenas o pessoal da comunicação fazendo a comunicação. Dirigentes das mais diversas áreas precisam atuar, pois a comunicação deve ser feita a partir do conhecimento mais geral para disputar a comunicação emocional”.
‘Vozes Silenciadas - Reforma da Previdência e Mídia’
O objeto da pesquisa apresentada pela jornalista Iara Moura do Coletivo Intervozes foram reportagens e editoriais sobre a Reforma da Previdência divulgadas, entre janeiro e junho de 2019, pelos principais veículos de comunicação impressa com circulação nacional e canais de TV.
Segundo a pesquisa, a maioria das notícias focou a tramitação da Reforma da Previdência, ao invés de explicar como essa reforma vai afetar a vida dos trabalhadores brasileiros. As fontes escolhidas para falar sobre o assunto foram especialistas e políticos, os trabalhadores não foram escolhidos como vozes autorizadas a tratar do tema. Ainda entre os especialistas, faltou equilíbrio na escolha das vozes favoráveis e contrárias: 64% dos especialistas entrevistados eram favoráveis à reforma da previdência, apenas 19% dos especialistas entrevistados se posicionaram de forma contrária, 8,5% dos especialistas não identificaram sua opinião, e mais 8,5% afirmou se parcialmente favorável. “É enorme a disparidade. E também verificamos quase ausência de mulheres entre os especialistas entrevistados: 88% homem e 12% mulheres. Nós sabemos como esta reforma vai atingir setores do trabalho executado por mulheres, como as trabalhadoras camponesas serão prejudicadas, mas a trabalhadora do campo não foi compreendida como voz autorizada a falar, portanto, o aspecto da falta de equidade de gênero também foi bastante alarmante na cobertura jornalística sobre a Reforma da Previdência”, observou.
Iara Moura explicou que o tema esteve presente em 267 editoriais sinalizando a temática da reforma da previdência como importante. A cobertura dos protestos do 1º de maio também foram analisadas, pois a pauta da Reforma da Previdência esteve presente nos atos e protestos realizados em todo o território nacional. A pesquisa percebeu muitas matérias abordando como os servidores oneram os cofres públicos porque se aposentam muito e isso gera um grande gasto. A pesquisa do Intervozes detectou que a maioria das matérias sobre o 1º de maio utilizou o discurso de especialistas para afirmar que se não houverem mudanças no sistema previdenciário atual, o desenvolvimento do País ficará comprometido, o que põe em risco o sistema econômico e o crescimento da economia brasileira. “Foi se criando a ideia da Reforma da Previdência do Governo Bolsonaro como a única proposta possível para o Brasil, no esforço de criar o consenso e a polarização entre quem está autorizado a falar e quem está se opondo ao governo Bolsonaro”.
Mídia publicitária
Todos os veículos de comunicação analisados tiveram aumento da verba publicitária no referido período da pesquisa. O jornal Folha de São Paulo teve aumento de 121%; o Estadão cresceu em 229%; a Revista Época: 252%; a Veja, 489%; a Record: 510% e a revista Istoé: 384%. “A partir desta informação, a gente entende porque vários veículos de comunicação declararam apoio ao Bolsonaro durante a campanha eleitoral e apoio à Reforma da Previdência. Além da mídia publicitária que cresceu neste momento em que a reforma vinha sendo discutida com a sociedade, ainda existem as empresas de mídia administradas por grupos empresariais com investimento no setor de saúde privada, agronegócio, entre outros setores diretamente ou indiretamente beneficiados por esse modelo de reforma”.
A Diretora de Comunicação da CUT/SE, a jornalista Caroline Santos. Dirigente do SINDIJOR/SE, Carol destacou a importância do resultado da pesquisa e convidou dirigentes sindicais a conferirem a pesquisa na íntegra “Vivemos tempos em que as lutas da classe trabalhadora se dão nas ruas, mas também nas redes sociais, nos aplicativos de mensagens instantâneas, na internet. Temos que estar atentos e militantes, pois como apresentou Henrique da Interlig, vivemos uma guerra híbrida e dentro dela, como prova o Intervozes na pesquisa apresentada, nossas vozes são silenciadas pela mídia hegemônica".