Escrito por: Iracema Corso
'A Importância da Economia Solidária no Enfrentamento à Fome' foi o tema que despertou a esperança de trabalhadores informais e populações excluídas no Nordeste
‘A Importância da Economia Solidária no Enfrentamento à Fome’ foi o tema que reuniu, na última sexta-feira, dia 5 de agosto, na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT Sergipe), pescadoras e pescadores, marisqueiras, artesãos, agricultores rurais, comunidade quilombola, catadoras de mangaba, trabalhadoras domésticas e diversas outras categorias de trabalhadores informais de todo o Estado de Sergipe.
O presidente da CUT/Sergipe, Roberto Silva, destacou a importância do fortalecimento dos trabalhadores e trabalhadoras informais neste momento em que o trabalho informal cresce de forma alarmante no Brasil. Através de plataforma virtual, o debate contou com a participação do secretário de Relações do Trabalho da CUT Brasil, Ari Aloraldo do Nascimento.
O agricultor familiar Alberto Marques (Representante da CUT Sergipe na Escola Nordeste de Formação da CUT Brasil), mais conhecido como Betinho, coordenou a mesa do evento e falou sobre a importância da Economia Solidária para o agricultor familiar enquanto garantia de mercado para escoar a produção, o valor do agregar social e cultural.
“O agricultor familiar produz alimento, principalmente no pós-pandemia, e muitas das vezes não tem pra quem vender. Por exemplo: quem produz frango na agricultura familiar não consegue oferecer o baixo preço de uma grande granja que produz frango em grande escala. O agricultor familiar não consegue competir em função dos insumos. A Economia Solidária consegue fortalecer este pequeno comércio, em menor quantidade, com diversidade e assim escoar a produção”, explicou Betinho.
Apesar da importância desta vitória: de fazer escoar a produção; para Betinho, o alcance organizacional da economia solidária vai além da comercialização, pois também há a ‘loja de troca' de diferentes produtos. “Isso combate a insegurança alimentar, fortalece a produção e a integração das pessoas. Saímos da lógica do mercado para uma lógica de cooperação”, afirmou Betinho.
Sobre Economia Solidária, Betinho também destacou o agregar social como ponto forte da Economia Solidária. “Desde a produção, do beneficiamento, comercialização, há um envolvimento de toda a família. Se a gente produz uma determinada fruta, a família pode beneficiar transformando em polpa, em doce, outro membro da família cuida da venda, da embalagem, a economia solidária cuida deste arranjo da produção, beneficiamento, venda, embalagem e toda a logística de distribuição”.
Segundo Betinho, a valorização cultural e tradicional do produto é outro aspecto fundamental da Economia Solidária. “Há também um agregar de valores culturais, de cultura tradicional, através de produtos tradicionais de cada região. A agricultura familiar, no viés da economia solidária, também faz um resgate cultural e coloca o produtor mais perto do consumidor. E isso é fundamental neste momento em que a gente tem esta enorme carência de alimentos, principalmente a carência de alimento saudável, sem veneno”, ressaltou Betinho.
Política Pública
A palestrante Divaneide de Souza, educadora em Economia Solidária, coordenadora da Articulação Popular São Francisco Vivo/ Sergipe e que faz parte da coordenação política da Associação Nacional em Agroecologia (ANA) traçou o histórico e aprofundou o debate sobre Economia Solidária no Nordeste.
“É preciso trazer isso para a política e enxergar o potencial da economia solidária como política pública. A gente não quer um projetinho que começa aqui e termina ali, a gente precisa de uma política pública mesmo. Pelo peso político que a CUT tem, é importante trazer este tema a frente para sabermos o que é a economia solidaria e o que podemos fazer. A partir da economia solidária, a luta é por um trabalho que dignifique, que gere renda para que as pessoas possam ter outra vida”, resumiu Divaneide de Souza.
Economia Solidária no Nordeste
Desde 2002, Divaneide fazia visitas e mapeamento no Estado de Sergipe através do Movimento de Mulheres. A partir de 2012, enquanto educadora da Economia Solidária, ela passou a revisitar o estado de Sergipe e a atuar também nos Estados da Bahia e Alagoas mapeando empreendimentos, cooperativas, grupos informais, com o foco nas mulheres trabalhadoras e ações em todo o Baixo São Francisco.
“Economia Solidária não é só produzir e vender. Há o respeito pela natureza, à juventude, à agroecologia... A educação em economia solidária é muito importante para a pessoa fazer a devida gestão do que ganha, do que é produzido, do que é consumido, existe a pedagogia da autogestão. Foi um trabalho prazeroso de se fazer”, explicou Divaneide.
A educadora social contou experiências exitosas que acompanhou e orientou nos municípios sergipanos de Santa Luzia do Itanhay, Porto da Folha, Simão Dias, Nossa Senhora da Glória, Gararu, em Brejo Grande, entre outros municípios em que participou de projetos de fortalecimento da Economia Solidária local.
“É gratificante começar com 10 mulheres e depois ver mais de 100 mulheres produzindo, com condições de venda, mercado certo para comercializar sua produção. Precisamos voltar a trabalhar pelas minorias esquecidas. Não existe mais política pública para as minorias. A gente vê este cenário de miséria em Aracaju e quando a gente vai pro meio rural não é diferente. Onde tem agro, tem miséria, estamos num período bem difícil da nossa história. E a gente precisa de iniciativas para que a gente possa sair desta realidade com projetos de inclusão e políticas de inclusão. Depois da pandemia a situação está ainda pior”, avaliou a educadora social.
No resgate histórico sobre Economia Solidária no Brasil, a educadora explicou como ocorreu o completo desmonte desta política que definhou com desvio de verbas públicas até o desmantelamento do projeto após o golpe contra a democracia que retirou a presidenta Dilma da presidência do Brasil.
Zilda Maria Alves de Sousa, presidenta da Associação de Mulheres Pescadoras de Ilha das Flores, filiada à CUT, avaliou de forma positiva o encontro sobre Economia Solidária pela necessidade urgente de unir e fortalecer as trabalhadoras e trabalhadores informais.
“Economia solidária é captar recursos para nossas capacitações, para a nossa troca de experiência. É garantir que mulheres unidas troquem experiência sobre os saberes da sua comunidade, do seu território e levando em consideração que economia solidária não é só você vender o seu produto, é trocar informação sobre um produto de outra companheira de outra localidade, isso é muito importante e se faz com a economia solidária. E para isso, temos que agregar conhecimento, projetos, saberes, sabores. Tudo isso é Economia Solidária”, afirmou Zilda.
O Encontro sobre Economia Solidária que aconteceu na sede da CUT contou com a presença do Movimento de Mulheres Camponesas, da Marcha Mundial de Mulheres, Assentamento Rosa Luxemburgo, Associação de Mulheres, SINTESE, Federação de Artesanato, Articulação São Francisco Vivo, PROOGANIC, Associação de Pescadores Evangélicos do Betume, EQUIP, MCP, FEARTS e diversas outras categorias de trabalhadores informais de Sergipe.
Da diretoria da CUT/SE participaram a secretária de Combate ao Racismo, Arlete Silva, a secretária de Formação Sindical, Caroline Santos, a dirigente da CUT e do Sindomestico/SE, Quitéria Santos e a secretária de Organização e Política Sindical, Joelma Dias. Ainda estiveram presentes a vereadora Ângela Melo, dirigente nacional da CUT e o ex-presidente da CUT/SE, candidato a deputado estadual, professor Dudu.