Escrito por: Iracema Corso
II Fórum Nacional em Defesa das Instituições Públicas de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário trouxe Frei Beto a Aracaju e oportunizou debate com os movimentos sociais
A fome, a pesquisa pública e o desenvolvimento agropecuário foram discutidos por nomes de referência à frente dos debates no II Fórum Nacional em Defesa das Instituições Públicas de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário, realizado na segunda-feira, dia 17/9, pelo SINPAF (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário), filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT/SE).
A atividade aconteceu no Celi Hotel em Aracaju e reuniu trabalhadores da EMBRAPA, Codevasf, agricultores rurais e militantes do MST, MPA (Movimento de Pequenos Agricultores) e MPC (Movimento Popular Camponês).
O grupo de teatro Raízes Nordestinas do município de Poço Redondo apresentou uma peça ressaltando a importância da conscientização e empoderamento dos trabalhadores rurais. A força e o conhecimento popular também foram eixos importantes da palestra de Frei Beto, antropólogo, teólogo, jornalista, idealizador do Fome Zero e militante social.
“A gente precisa trazer os conceitos para o chão da vida”, afirmou Frei Beto citando Edgar Morin. Ele explicou que o Fome Zero tinha uma proposta de emancipação popular como caminho para resolver em definitivo o problema da fome, da desigualdade rumo ao desenvolvimento nacional. “Foi um programa do governo para mobilizar a base social, mas não seguiu adiante porque os prefeitos se mobilizaram contra o governo, primeiro porque queriam o controle do cadastro dos beneficiados, se não fosse assim não poderiam manipular eleitoralmente favorecendo o cumpadre a cumadre, a afilhada... Além disso, os prefeitos temiam que do Comitê Gestor do Fome Zero em cada município surgissem novas lideranças municipais ameaçando a continuidade do poder de oligarquias regionais”, esclareceu.
O palestrante seguinte, o pesquisador em Agroecologia Paulo Petersen lembrou que o programa de governo 1 milhão de cisternas foi idealizado inicialmente por uma agricultor de Simão Dias. O pesquisador citou o exemplo para reafirmar a importância dos movimentos sociais, dos trabalhadores do campo na produção de ciência, tecnologia para gerar solução de interesse público para a maioria da população. “Existe uma outra epistemologia, outra forma de entender o conhecimento. É preciso saber, antes de tudo, que o conhecimento é uma forma de poder”.
O pesquisador Petersen defendeu a agroecologia nas dimensões: ciência, prática e movimento, além de discutir o papel da Embrapa. “Não basta debater o caráter público da Embrapa, afinal de contas a Embrapa é uma empresa pública, mas precisamos saber em que medida uma instituição pública está sintonizada com o interesse público. Existe talvez um descompasso neste formato jurídico que coloca a empresa a serviço da maioria da população, mas é preciso refletir efetivamente: o que a Embrapa vem fazendo desde a sua criação? Fazemos este debate num contexto de ameaça de privatização para todo lado. Privatização, inclusive, da pesquisa agropecuária, passando pelo sucateamento e vinculação aos interesses das grandes corporações. Na verdade, a gente não precisa privatizar a Embrapa pra fazer com que ela esteja a serviço das grandes corporações”, destacou.
Presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT/SE), o professor Dudu acompanhou o Fórum. “Aracaju está de parabéns por sediar este evento em defesa da pesquisa pública neste momento turbulento e difícil para a pesquisa. Compreendemos que o cenário de dois anos de golpe já mostrou a dimensão do retrocesso que poderemos vivenciar nos próximos anos, inclusive com o risco de a inteligência brasileira ficar comprometida”.
A Diretoria da Seção Sindical Embrapa Aracaju avaliou muito positivamente a realização do Fórum em Aracaju por atender às expectativas de informar a base de filiação sobre o verdadeiro propósito de uma Embrapa Pública e democrática. De acordo com a diretoria do SINPAF em Aracaju, o Fórum forneceu os elementos para subsidiar um ajuste de agendas da Embrapa com os interesses do povo brasileiro, direitos explicitados na Política de Soberania e Segurança Alimentar, alinhada com a erradicação da pobreza e preservação dos recursos naturais.