Energia nuclear: cara, perigosa e lucrativa
O acidente na usina de Fukushima, no Japão, alertou o mundo sobre o potencial devastador da energia nuclear. O debate atingiu o Brasil, país que planeja investir mais nesse tipo de energia. Segundo o Plano Nacional de Desenvolvimento Energético...
Publicado: 15 Abril, 2011 - 10h03
Escrito por: Laisa Galdina

Porm, os prprios estados que receberiam os empreendimentos j esto receosos em relao a sua construo. Mesmo com valores que trariam investimentos de bilhes de reais e empregos, governadores j sinalizam que no pretendem abrigar usinas em seus territrios.
At mesmo governadores da base aliada, como Eduardo Campos (PSB-PE) e Marcelo Dda (PT-SE), j afirmaram que os seus estados vo repensar a viabilidade da construo de parques nucleares.
Na Europa, a desconfiana em relao a essa matriz energtica ampliou a rejeio da populao abertura de mais usinas atmicas. A situao em pases como a Frana, que tm na energia nuclear sua maior fonte de energia, chegando a 70%, deve forar a uma imediata substituio de matriz energtica.
As inauguraes de Angra 1 e Angra 2, em 1982 e 2000, respectivamente, causaram protestos de ambientalistas e tiveram sua eficcia questionada. Os recursos hdricos, elicos e solares do pas so apontados como os principais motivos para recusar a energia atmica.
No entanto, as quatro usinas previstas no PNDE teriam 40 anos de vantagem sobre a usina de Fukushima, que hoje tem essa idade. A usina japonesa j possui equipamentos considerados obsoletos por especialistas.
Situao confortvel
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobo (PMDB), afirma que o Brasil possui capacidade para construir as quatro usinas, alm de Angra 3, com o mximo de segurana possvel.
Para Ildo Sauer, doutor em engenharia nuclear e professor da Universidade de So Paulo (USP), o desenvolvimento da energia atmica no Brasil no deve ser analisado apenas pelos eventuais riscos, mas tambm pelos interesses financeiros por trs dela.
O Brasil dispe de um potencial hidrulico, elico e de recursos a partir da biomassa. At 2040, 2050, quando tivermos 200 milhes de habitantes, mesmo dobrando o consumo da populao, ser preciso usar apenas 70% do nosso potencial hidrulico, ainda sobra energia. O Brasil est numa posio muito confortvel, afirma.
Sauer, que foi diretor de gs e energia da Petrobras no primeiro governo Lula, critica as gestes do ex-presidente e de Dilma Rousseff na rea de energia. No Brasil, o governo Lula resolveu voltar com o projeto de construir Angra 3, que deve custar R$ 8 bilhes de reais e gerar 1.345 megawatts. Essa energia poderia ser produzida pela matriz hidrulica, elica ou de outra fonte. As usinas nucleares previstas para o entorno do rio So Francisco teriam um custo de R$ 80 bilhes, sendo que a energia que elas gerariam poderiam ser substitudas por investimentos na ordem de R$ 20 bilhes, usando outras matrizes. Do ponto de vista tecnolgico, essas usinas no trariam avanos ao pas, explica.
Apesar de crtico da poltica nuclear do governo federal, Sauer afirma no ser contrrio a essa fonte de energia e aponta que o seu uso de suma importncia na medicina diagnstica. Do ponto de vista cientifico-tecnolgico, seria mais inteligente montar um reator que a Marinha pudesse utilizar para fazer ensaios, sugere.
Para Sauer, o principal motivo para o Brasil manter a sua poltica favorvel energia atmica, mesmo depois da comoo internacional em torno de Fukushima, o lobby das grandes empresas internacionais que pretendem lucrar com a tecnologia no pas. A poltica se submeteu ao lobby da indstria nuclear internacional. uma opo por uma fonte mais cara que vai exigir cuidados elevadssimos por 2 mil anos, aponta.
Sauer tambm lembra que os equipamentos para a construo de Angra 3 j esto estocados h 20 anos e podem apresentar defasagem.
Novas fontes
Mesmo antes da tragdia japonesa, o debate central no campo da energia j era a busca da conciliao entre desenvolvimento econmico e preservao do meio ambiente. No caso da usina de Fukushima, nenhum dos dois elementos mostraram-se viveis, diante do imenso dano ambiental e o prejuzo financeiro causado pela radiao.
Para Paulo Metri, diretor do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, o uso de fontes limpas e renovveis deve ser feito, mas necessrio medir o impacto financeiro dessas escolhas. Segundo Metri, se a energia alternativa for mais cara do que a convencional, o produto brasileiro pode tornar-se mais caro no mercado internacional, gerando empregos com m remunerao no pas. A [energia] solar s ser competitiva em preo depois de alguns desenvolvimentos tecnolgicos, que eu espero que ocorram, pois ser a redeno do Nordeste brasileiro, alm de ser bom para o Brasil como um todo, devido ao alto grau de insolao. A elica pode tambm vir a ter alguns novos desenvolvimentos. Mas j deve ser utilizada nas regies onde houver vento, pois, nestas, ela j competitiva, avalia.
Fonte: Renato Godoy de Toledo - Brasil de Fato