Escrito por: Iracema Corso

Feira e debates celebram 2 anos da Associação de Mulheres Ribeirinhas do Saramém

Com direito a bolo de aniversário, feira de produtos artesanais e óleo de côco, a Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Ribeirinhas do Povoado Saramém, no município sergipano de Brejo Grande, comemorou 2 anos de existência na beira do Rio São Francisco, no último sábado dia 10 de novembro.

A presidenta da Associação Cida vive há décadas na região e há 2 anos vem fazendo reuniões embaixo dos pés de árvore defendendo a necessidade das mulheres se unirem para lutar por autonomia e pelo direito a uma vida digna.

O diretor e ex-presidente da CUT/Sergipe, o professor Dudu, participou da comemoração do aniversário de 2 anos da associação e dialogou sobre dificuldades que a associação vem enfrentando para obter o recebimento do Bolsa Família. De acordo com o dirigente sindical a situação está prestes a ser regularizada no início de 2024.

“Estamos aqui no Povoado do Saramém, na margem do Rio São Franscico, região de Brejo Grande, para o aniversário de 2 anos da Associação de Mulheres Pescadoras do Saramem. É importante que todos entendam que dona Cida, quando teve a ideia de fundar essa associação junto com as mulheres do Saramem, não teve o intuito de dividir, pelo contrário, a associação vem para somar. O importante na luta é que sempre há espaço para que todos possamos lutar. Essa associação é filiada à CUT e a gente fica feliz em ver a credibilidade, o carisma de Cida que briga pelos direitos das famílias excluídas que sobrevivem na beira do Rio São Francisco e tem direito a uma vida digna”, observou o professor Dudu.

Cida falou um pouco sobre os problemas atuais que precisam ser resolvidos. “Aqui todo mundo é pescador, emprego só quem é da prefeitura, hoje vemos um pai de família entrar no rio para pescar e voltar sem nada. O peixe se acabou. O Bolsa Família, tem mães que estão sem receber. Seja com a Prefeitura ou com o Cras (Centro de Referência de Assistência Social), precisamos resolver esse problema”, reafirmou a Tia Cida.


História da Associação

“Começamos com 43 mulheres, e hoje estamos com 165 mulheres. São pescadoras pobres e precisam entender os direitos delas, levar o valor que a mulher tem para esses deputados e esses prefeitos para eles verem tudo o que a gente precisa e a situação que a gente enfrenta aqui na beira do São Francisco. Os pescadores são pessoas que não conseguem manter a sua casa. Eles tem de 3 a 4 filhos. É importante uma mãe levantar de manhã e ter um café para dar a seus filhos, e isso já aconteceu aqui várias vezes: a fome, não ter um pão para dar aos filhos. Eu fui mãe com 11 anos de idade, tive um pai negro e pobre que nunca me deixou passar fome, então estou junto com essas mulheres lutando por dias melhores”, resumiu a Tia Cida como ela costuma ser chamada no povoado Saramém.



As mulheres da comunidade ribeirinha do Saramém revelam que os dois anos de existência da associação foram fundamentais para o avanço através de projetos para o acesso a políticas públicas.

A jovem Taís, que já é mãe, trouxe toda a sua família para comemorar o aniversário da Associação de Mulheres. “A Associação de Cida trouxe várias transformações positivas. Antes aqui era difícil ter acesso aos projetos. Cida conseguiu o projeto do Vale Gás, a Cesta Básica e continuamos lutando por outros projetos para serem conquistados”, resumiu.

Outras mulheres da associação como Camila, Jaqueline, Ivania e Carla reforçam a importância de cada conquista alcançada. Juntas, elas trabalham com a produção do óleo de côco.

“Tudo começou com a associação e com as reuniões de grupos de mulheres. Cida deu a ideia de nos juntamos e agora temos essa renda, sonhos e expectativas. Na associação fomos acolhidas, atendidas, só temos o que agradecer. além de sermos acolhidas e atendidas, só temos o que agradecer. Foi através da associação que conseguimos alavancar a produção de óleo de côco, assim como a possibilidade de continuarmos expandindo a produção de óleo de côco”, explicou Jaqueline que levou exemplares dos óleos de côco que as mulheres da comunidade produzem e estão vendendo.

Maria Anilda afirmou que: “quando não tinha a associação, era tudo muito difícil de resolver. Hoje em dia, tem essa filha de Deus para nos ajudar. Temos nossa associação, aí a nossa vida vai melhorando. É um botijão, é o projeto das casas, hoje em dia um pobre para fazer uma casa é muito difícil, não temos condição de fazer. E ter Cida trabalhando e procurando por nós é uma benção de Deus”, afirmou mais uma filiada da associação.

Além do depoimento das mulheres, que são maioria absoluta, na associação, o aniversário também contou com a presença de homens pescadores como o seu Regi que nasceu e se criou no Saramém, participou do aniversário da associação junto com sua família inteira. “Só temos coisas boas a falar da associação, e mais coisas boas virão, melhorias para os ribeirinhos, a gente precisa de projetos para continuar e para ajudar a todos nós”.

Mudanças Conquistadas

“Eu sofri muito nessa luta. Aqui a região mudou bastante e precisamos continuar”, declarou Cida. Aos 56 anos de idade, Cida contou que tinha apenas 17 anos quando chegou no Saramém.

“Aqui não tinha energia elétrica, não tinha estrada, não entrava carro, só entrava aqui a pé ou de bicicleta. Então nos juntamos, brigamos muito para fazer a estrada, os barraquinhos, aquelas casas... No princípio desta luta, a gente não podia oferecer nem um café porque fazia falta. Hoje todo mundo tem um barco, tem seu motor, tem a sua rede. Hoje temos o seguro, que é uma ajuda muito grande para quem compra material de pesca. Hoje temos casas boas. O que temos hoje é uma mansão para o que a gente tinha antigamente. Há 25 anos não era casa o que tínhamos. É preciso saber como era aqui antigamente para continuarmos fortes, firmes, unidas na luta e aqui ninguém massacrar ninguém porque tudo que construímos foi fruto da nossa união e quero que a gente continue unidas porque ainda temos muito por fazer”, declarou Cida.

Saúde

Membro da ONG São Francisco Vivo e da ANA (Associação Nacional de Agroecologia) a companheira Divaneide Souza que atualmente trabalha no Ministério da Saúde participou do aniversário da Associação de Mulheres do Saramém em apoio a esta luta.

Divaneide, também conhecida na região do Baixo São Francisco como Didi, revelou que sua principal luta junto ao Ministério da Saúde é para poder levar a assistência médica para a população do campo, comunidades ribeirinhas, do sertão, das várias regiões brasileiras que tem dificuldade de acesso à políticas públicas de saúde e assistência social devido à distância dos centros urbanos. Didi contou que parte das mulheres que residem na comunidade do Saramém vieram do povoado Cabeço, que desapareceu embaixo d’água, pois o oceano que cada vez mais invade as águas do Rio São Francisco naquela região.

“Sou uma fã número 1 de Cida, estou aqui para comemorar os 2 anos da associação. É uma alegria ver tantas mulheres juntas. Não foi com pouco custo que Cida conseguiu reunir essas mulheres. Não é justo que a gente, população do campo, das águas e das florestas, sejamos tão menosprezadas e tão esquecidas. Queremos fazer a saúde pública chegar nos lugares mais distantes”, destacou Divaneide.