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Grécia: "Não é gente que goste de combater"

Por motivos sobretudo de prestígio, Benito Mussolini empreendeu a invasão da Grécia, em 28 de outubro de 1940, após ver rejeitada sua exigência de ocupação de territórios helênicos pelos italianos durante o período de guerra. Paradoxalmente, na...

Publicado: 06 Fevereiro, 2012 - 17h53

Escrito por: Central Única dos Trabalhadores de Sergipe (CUT/SE)

Por motivos sobretudo de prestgio, Benito Mussolini empreendeu a invaso da Grcia, em 28 de outubro de 1940, aps ver rejeitada sua exigncia de ocupao de territrios helnicos pelos italianos durante o perodo de guerra. Paradoxalmente, na chefia da Grcia encontrava-se ditador fascista que impusera aos gregos a saudao romana. Ao discutir a invaso, o futuro comandante da operao malograda respondeu pergunta de Mussolini sobre o moral do soldado grego: Non gente che sia contenta di battersi.
Mal preparadas e sem motivao, as tropas italianas enfrentaram-se com a enorme galhardia helnica na defesa de sua nao, sendo escorraadas at o interior da Albnia, de onde haviam chegado. A Grcia seria submetida apenas com a interveno macia da Wehrmacht, em janeiro de 1941. At a Libertao, os nazifascistas foram duramente combatidos por guerrilha grega, sobretudo comunista. A aventura italiana na Grcia permitiu a primeira vitria aos Aliados na II Guerra e pesou sobre a invaso da URSS pelas tropas hitleristas.
Sete dcadas mais tarde, desta vez o governo alemo que apresentou, na segunda-feira, 30 de janeiro, quase oficialmente, a proposta de uma Segunda Campanha da Grcia, na reunio dos chefes de governos da Unio Europia, convocada sob o pretexto de discutir o relanamento da economia e do emprego, mas voltada nos fatos para a administrao das dvidas soberanas que assombram, em diversos graus, praticamente todas as naes europias, com destaque para Grcia, Portugal, Espanha e Itlia.
O documento alemo propunha literalmente a submisso do governo grego, preferencialmente atravs de uma mudana constitucional, a um comissrio europeu (leia-se alemo), com a autoridade plena sobre a administrao grega, no relativo aos gastos pblicos, a fim de que se d absoluta prioridade ao pagamento da dvida externa. Ou seja, exigia-se o abandono literal da independncia nacional do pas, em favor de comissrio estrangeiro.
Inicialmente atravs do governo de centro-esquerda e a seguir sob a direo de governo tcnico pluri-partidrio (socialista, direita, extrema-direita), a Grcia vem sendo submetida a exigncias arrasadoras quanto privatizao dos bens estatais; cortes dos gastos e do emprego pblicos; reduo dos direitos trabalhistas; diminuio dos salrios pblicos e privados; extenso da jornada de trabalho e da idade de aposentadoria; aumento dos impostos etc.
Como resultado dessas medidas, meio milho de gregos perderam o trabalho e difundiu-se a populao sem-teto e incapaz sobretudo velhos de financiar a prpria alimentao, antes fenmenos praticamente inexistentes no pas. O alcoolismo, as drogas, a violncia, o suicdio, a prostituio etc. alcanam agora nveis antes impensveis para a Grcia. Exigida pela Troika - Comisso Europia, Banco Central Europeu, FMI -, essas medidas so condies para que o pas receba novos emprstimos para pagar os emprstimos vencidos, devidos sobretudo aos bancos alemes e, secundariamente, franceses.
A crise da dvida soberana grega estourou quando as agncias de classificao de risco, sob o controle do grande capital anglo-estadunidense, desclassificaram a capacidade do pas de pagar sua dvida, motivando aumentos insustentveis nas taxas de juro dos emprstimos de curto, mdio e longo prazo do pas. A aplicao das exigncias da Troika ensejou que o pas mergulhasse em brutal recesso superior a 5,5% ?, expandindo relativamente o dficit pblico, com a queda dos impostos e taxas.
Em 2011, os ingressos pblicos estatais retrocederam em quase novecentos milhes de euros, enquanto as despesas aumentaram neste perodo, devido exploso do custo da vida no pas! As medidas draconianas impostas populao grega procuram apenas ampliar a recuperao dos capitais emprestados pelo capital financeiro, antes que o pas se encontre em impossibilidade de pagamento default ?, programada ou no.
A proposta alem foi rejeitada peremptoriamente pela enorme maioria dos representantes dos estados presentes reunio de 30 de janeiro, certamente pela sua pletrica inabilidade. O prprio presidente do Eurogrupo, o luxemburgus Jean-Claude Juncker, denunciou como inaceitvel tal projeto, lembrando ser fortemente contrrio idia de impor um comissionamento completo apenas Grcia. Em verdade, um dos objetivos da reunio a institucionalizao de sanes automticas para os Estados que no respeitem o equilbrio oramentrio determinado pela governana europia, j instalada informalmente no continente, sob a hegemonia do capital financeiro alemo e internacional. Ou seja, a ocupao pelo grande capital financeiro prevista para todo o continente! O que acontecer muito logo, se o europeu se mostrar Gente que no Gosta de Combater!
Fonte: Mrio Maestri - Correio da Cidadania