Julho das Pretas e a vice-presidenta da Colômbia Francia Márquez
Publicado: 06 Julho, 2022 - 16h56 | Última modificação: 07 Julho, 2022 - 11h50
Escrito por: Iracema Corso

O Julho das Pretas já começou. E neste ano, através da eleição da vice-presidenta da Colômbia, Francia Márquez, sentimos antes o calor da luta para derrotar o racismo e o machismo na América Latina e no Caribe. A vitória e a história de Francia inspiram mulheres negras na América Latina na luta diária contra o machismo e contra o racismo no continente latino americano.
Francia começou a trabalhar como doméstica na Colômbia e desde jovem esta mulher negra foi inspiração para muitas outras trabalhadoras por continuar se destacando como líder comunitária. Francia esteve presente na organização da resistência contra a mineração ilegal e como ambientalista lutou para frear as mudanças climáticas. Em 2014, foi uma das organizadoras da Marcha dos Turbantes pelo cuidado da vida e dos territórios ancestrais.
Para a mulher afrolatina, não é fácil construir a luta, trabalhar e estudar, mas Francia também conseguiu vencer mais esta barreira machista e conquistou o diploma de advogada. Desde então segue atuando em defesa da população negra latina, das mulheres e da juventude. A matéria 'A organização feminista é fundamental para reconstruir o Brasil', publicada pelo jornal Brasil de Fato, mostra que a representação feminina no parlamento da Colômbia aumentou de 19% para 29,33%, enquanto no Brasil as mulheres ainda ocupam apenas 15% dos mandatos que compõem o Congresso Nacional.
Com a faca e o queijo na mão, basta vontade política, conscientização e mobilização para que as mulheres através do voto mudem esta situação, pois as mulheres representam 53% do eleitorado brasileiro e os homens representam 47% do eleitorado, conforme informações divulgadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Diretora da Central Única dos Trabalhadores (CUT/SE) e vice-presidente do SINDOMESTICO/SE, Quitéria Santos afirma que a conquista de Francia Márquez anima o movimento nacional de trabalhadoras domésticas no Brasil na luta por direitos iguais. "Somos o País com o maior número de trabalhadoras domésticas do mundo. Na nossa categoria as mulheres negras são mais de 70%. E mesmo depois da conquista de direitos como a jornada de trabalho, licença maternidade, FGTS e outros, durante o Governo Dilma, ainda hoje lutamos muito para que estes direitos sejam cumpridos", revelou Quitéria.
Arlete Silva, secretária de Combate ao Racismo da CUT/SE, reforçou que a eleição de mais mulheres negras no Brasil, além de luta e mobilização, são o caminho para mudar o cenário de machismo e racismo contra a mulher negra. "O cotidiano é desanimador diante de tanta violência contra a mulher negra, principal vítima do desemprego brasileiro e quem recebe os menores salários. Por isso, para fortalecer a esperança e animar a luta, precisamos de mais mulheres eleitas, mais Tereza de Benguela, mais Mariele e Francis Márquez".
30 Anos do Dia da Mulher Afro Latina e Caribenha
O site Afrolatinas destacou que em 25 julho de 2022 completam 30 anos da criação do Dia da Mulher Afro Latina Americana e Caribenha. Ao longo destas décadas, a mensagem de combate ao racismo e ao machismo foi levada para longe, mas a realidade ainda impõe um longo caminho para o feminismo negro.
Conforme levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-Contínua), o desemprego alcançou 28,1% das mulheres negras do Brasil, atingindo justamente aquelas mulheres trabalhadoras que já compunham a maior camada de desempregados no país, ocupando apenas 17,3% dos postos de trabalho em 2020.
O site da CUT Brasil publicou uma reportagem para mostrar este cenário e como ele piorou com a pandemia, deixando cerca de 700 mil mulheres negras desempregadas e tantas outras com trabalhos precarizados e menor renda.
Dados do Atlas da Violência 2020, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Nacional de Segurança Pública, mostram que em 2018, 68% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras.
A secretária de Combate ao Racismo da CUT/SE destaca que o Julho das Pretas é o momento de denunciar a situação enfrentada pela mulher negra no Brasil e cobrar políticas de estado efetivas para a transformação desta realidade.
Imagem de Capa: Reprodução Fenatrad