Escrito por: Iracema Corso

Livro aborda condição escravista da mulher negra e trabalhadora doméstica em Sergipe

Lançamento será no dia 21 de janeiro e contará com um dia inteiro de programação especial voltada para as trabalhadoras domésticas

A primeira publicação sobre as condições escravocratas de trabalho doméstico em Sergipe será lançada No próximo sábado, no dia 21 de janeiro, às 9h da manhã, na sede do Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Domésticas de Sergipe (SINDOMESTICO/SE).

Com o título ‘A mulher negra no mercado de Trabalho - condições escravistas das trabalhadoras domésticas’, o livro que serve como um marco histórico para abrir o debate sobre o tema foi escrito pela professora de Direito Shirley Silveira Andrade a partir de entrevistas com trabalhadoras domésticas no estado de Sergipe.

Quitéria Santos, dirigente da Central Única dos Trabalhadores, do SINDOMÉSTICO/Sergipe e da Fenatrad (Federação Nacional de Trabalhadores Domésticos), é uma das trabalhadoras domésticas entrevistadas que concedeu seu depoimento de vida para denunciar as dificuldades nas condições de trabalho doméstico. No entanto, a autora da publicação enfatizou que todos os depoimento foram concedidos de forma anônima, tendo em vista que o objetivo principal foi dar visibilidade à exploração que acontece de forma silenciosa em muitos lares brasileiros.

Estudiosa em trabalho escravo e em trabalho rural, a autora do livro e professora universitária Shirley Silveira percebeu que a falta de dados sobre a escravidão em Sergipe era um bom motivo para escolher este tema de pesquisa. “Como 95% das pessoas resgatadas do trabalho escravo eram homens, eu me questionei ‘e as mulheres?’ Então durante a pandemia começaram a aparecer denúncias de trabalho escravo envolvendo trabalho doméstico. Aí percebi que no contexto da escravidão contemporânea havia a invisibilidade do trabalho doméstico feminino, em condições análogas ao trabalho escravo”.

No site da editora CRV, a escritora descreveu seu livro como resultado de uma preocupação histórica sobre a invisibilidade do trabalho reprodutivo.

“O foco é a reflexão sobre o trabalho doméstico remunerado, aquele realizado por trabalhadoras domésticas, demonstrando a impossibilidade da produção de riquezas dentro do capital sem a sua presença. A relação entre trabalho produtivo e reprodutivo tem um enlace que não podemos cansar de revelar e denunciar”, descreveu Shirley.

Para a professora, o trabalho doméstico remunerado permite uma boa compreensão da realidade brasileira.

“São questões raciais, de gênero, de diferenças regionais que, uma vez não tratadas, são dimensionadas para uma análise hegemônica que esquece essas relações de poder e de exploração. Afinal, no Brasil, 92% dessas trabalhadoras é mulher e 67% é negra. Portanto, ao analisarmos as condições de trabalho de trabalhadoras domésticas em Sergipe, trouxemos cortes de análise que consideramos fundamentais para compreender a escravização contemporânea a partir dessas diferenças. Demonstrando que a ausência dessas análises leva a equívocos da política pública de enfrentamento à escravização”, resumiu Silveira.

Programação Especial de Lançamento do Livro

O dia 21 de janeiro será marcado por uma programação especial nos turnos da manhã e tarde na sede do SINDOMESTICO Sergipe, especialmente voltada para a trabalhadora doméstica.
- 8h café da manhã

- 9h lançamento do livro ‘A Mulher Negra no Mercado de Trabalho: Condições Escravistas das Trabalhadoras Domésticas’, com a professora Shirley Andrade (DDI/UFS)

- 9:15h Roda de Leitura sobre o livro com Procurador Dr. Adroaldo Bispo

-10h – Trabalho Escravo Doméstico – Membro da Diretoria da Fenatrad

- 11h – ‘Igualdade Racial no Trabalho Doméstico’ com o professor Roberto Amorim do Coletivo de Combate e Enfrentamento ao Racismo do SINTESE

14h- Os direitos das trabalhadoras domésticas com Lys Sobral / Procuradora do Trabalho

- 14:30h Dinâmica de grupo com Quitéria Santos

- 15h ‘Direito Previdenciário’ com Márcio Cardoso / técnico do INSS