Escrito por: Iracema Corso

Marcha da Classe Trabalhadora de Sergipe espalha luta pelas ruas de Aracaju

Por água, justiça, democracia e contra a barbárie, a sexta-feira, dia 22 de março foi marcada por protestos, intervenção em prédios públicos e caminhada pelas ruas de Aracaju

No Dia Mundial da Água, sexta-feira, dia 22 de março, cinco prédios públicos de Sergipe amanheceram com cruzes pretas de 2 metros de altura em sinal de protesto e com os dizeres “Sergipe: com festa e bolo se engana o povo”.

Foi apenas o começo do dia de luta marcado pela Marcha da Classe Trabalhadora de Sergipe por mais democracia, mais direitos; contra o golpe, Ditadura nunca mais; por prisão para golpistas; contra o genocídio na Palestina e contra o extermínio do povo preto no Brasil; pela valorização das/os professoras/es; contra a privatização da água e em repúdio à violência contra a mulher.

Antes da marcha, mais de dois mil balões vermelhos também foram fixados ao longo de toda Avenida Ivo do Prado, umas das principais vias de Aracaju, com as frases “Valorize os professores/ras agora” e “Concessão da água é privatização disfarçada”.

A concentração para a Marcha da Classe Trabalhadora foi na porta da Deso. Antes de sair em caminhada, a diretora nacional da CUT e da CNTE, Ivonete Cruz falou sobre a mobilização nacional e luta em defesa da democracia brasileira.

“Contra a Ditadura Militar, as centrais sindicais e os movimentos populares de esquerda vão ocupar as ruas. Não podemos permitir que retorne para este país um modelo de política em que as pessoas são mortas, torturadas, não podem dizer o que pensam e têm sua liberdade ameaçada a todo o momento. Estamos ocupando as ruas em todo o Brasil para dizer: Ditadura nunca mais Seguiremos em luta por mais direitos, mais democracia, contra o extermínio do povo preto no Brasil e contra a covardia do genocídio na Palestina”, discursou Ivonete na concentração.

A Marcha da Classe Trabalhadora saiu da Deso para denunciar a privatização da água dos sergipanos. A Marcha percorreu a cidade de Aracaju e, ao fim do trajeto, haviam sido afixadas 14 cruzes em alusão à Via Crucis da população sergipana. Confira os locais onde houve a intervenção de protesto do movimento sindical e dos movimentos sociais:

1. Na sede da Deso - Contra a privatização da água em Sergipe;
2. Na Secretaria de Estado da Administração – Para criticar a política de estado de desvalorização aos servidores;
3. Na OAB pela omissão diante do estupro contra a advogada Bruna Hollanda e também pela omissão diante da privatização da Deso;
4. No Ipesaúde porque aumentou a tarifa de desconto dos servidores e diminuiu o serviço de assistência;
5. Na Câmara de Vereadores de Aracaju mostrando a negligencia dos vereadores que autorizaram a privatização da água;
6. Na Procuradoria do Estado de Sergipe - PGE, mostrando que precisamos de uma procuradoria que defenda não só o patrimônio do Estado, mas também os servidores e servidoras;
7. Na Assembleia Legislativa de Sergipe que votou favorável à venda da água, privatização de serviços públicos e que impede trabalhadores de acompanharem as sessões;
8. No TJSE representando o Poder Judiciário que quer privatizar as atribuições dos analistas de serviço social e psicologia.;
9. No Palácio dos Despachos – para mostrar que governar não é privatizar o serviço público;
10. Em frente à Secretaria da Saúde mostrando que água é vida e saneamento é saúde;
11. Em frente à FAMES fazendo a cobrança de que é preciso que prefeitos e prefeitas que respeitem o Piso na Carreira do Magistério;
12. Intervenção em frente à Secretaria de Estado da Educação mostrando que a gestão tem que ser democrática e não meritocrática;
13. Na porta do Sergipe Previdência para cobrar a devolução dos 14% injustamente descontado do contracheque das aposentadas e aposentados do estado de Sergipe;
14. Na Praça Fausto Cardoso, símbolo da mobilização popular no Estado de Sergipe, foi deixada a última cruz cobrando democracia, liberdade, contra o extermínio do povo negro e pela paz na Palestina;
15. Na Secretaria da Fazenda, denunciando a política de arrocho salarial dos servidores


Valorize professoras e professores agora

A valorização das professoras e professores da rede estadual também foi pauta da marcha da classe trabalhadora. Nas intervenções no Palácio de Despachos, Secretaria de Estado da Fazenda o SINTESE deixou o recado que a Educação pública sergipana só tem futuro se aqueles e aquelas que estão no dia a dia nas escolas sejam devidamente valorizados. Na FAMES - Federação dos Municípios do Estado de Sergipe a cruz dizia "“Respeite: piso na carreira é Lei”, fazendo um alerta a prefeitos e prefeitas que o piso salarial do magisgério é lei da rede pública deve ser respeitado e aplicado na carreira. Além da marcha, o sindicato realiza durante todo esse mês diversas atividades no "Março Vermelho".

Contra a Privatização da Água

O governador Fábio Mitidieri foi escolhido como judas por privatizar a água do povo sergipano. Já são 230 trabalhadores da Deso que serão desligados da empresa a partir de abril/2024, vítimas de pressão, com problemas psicológicos, tudo isso antes do leilão que está previsto para acontecer no mês de junho de 2024. Imagine o cenário de demissão após a privatização da água.

A diretoria do SINDISAN, presente no ato, denunciou que 16% da água potável do mundo inteiro está no Brasil, o que reforça a responsabilidade dos políticos brasileiros, pois, ao invés de vender a água – numa atitude covarde, insensível e mesquinha – devem administrar o bem público com eficiência, inclusive, é para isso que foram eleitos e por isso a população de Sergipe paga o seu bom salário de governador.

O presidente do SINDISAN, Sílvio Sá, criticou o governador Fábio Mitidieri que sucateia a Deso, destrói a empresa e depois vai para a mídia cobrar dos trabalhadores da Deso porque não chega água na torneira da população sergipana.

“Governador, respeite os trabalhadores da Deso que por 30, 40 e até 50 anos vestem a camisa da empresa e trabalham todos os dias com amor, no sol, na chuva, na pandemia, eles fizeram de tudo para levar água, saneamento, vida e saúde para a população de Sergipe. Agora 230 estão sendo desligados e receberam deste governo um papelzinho com um coração azul impresso e duas balas grampeadas, como homenagem”, descreveu indignado, Sílvio Sá.

Diretora da CUT/SE, a professora Josi Joaquina, denunciou o governo de Sergipe pela privatização da água e desmonte dos serviços públicos. “A água é um bem essencial à vida, a água é comum a todos, não existe vida sem água. Como vamos passar a nossa água para a mão de poucos empresários? Eu pergunto: nós vamos pagar mais caro por um bem que é da nação? Precisamos lutar, unidos pela nossa água”.

A professora Josi Joaquina denunciou o desmonte dos serviços públicos em Sergipe e em Aracaju. “Que educação nós temos em Sergipe e em Aracaju? Temos uma educação de ‘blogueirice’. Os gestores vivem nas redes sociais postando vídeos lindos com escolas maravilhosas, enquanto nós professores e estudantes estamos torrando com o calor dentro da maioria das salas de aula. Fora do vídeo de propaganda, a realidade da maioria é o horror, é o desmonte da educação pública, e o desrespeito aos direitos conquistados”.

Repúdio contra a violência à mulher

Na porta da OAB/Sergipe, a diretora da Secretaria da Mulher Trabalhadora da CUT Sergipe, Adenilde Dantas cobrou, em favor da advogada Bruna Hollanda, vítima de estupro, a adoção das medidas protetivas que todas as mulheres violentadas têm direito, pois se a vítima e o réu trabalham no mesmo local então ela continua sob pressão psicológica e até risco à sua integridade física.

A professora Adenilde denunciou que o vazamento de informações sobre o inquérito da advogada Bruna precisa ser investigado e os responsáveis precisam ser punidos. A Secretaria da Mulher da CUT/ Sergipe afirmou que o caso precisa ser julgado pela OAB nacional, pois mesmo com o afastamento da vítima e do réu do conselho da OAB, ambos continuam tendo amigos na instituição, o que dificulta uma apuração imparcial.

Adenilde Dantas ainda criticou a falta de paridade de gênero na composição do Conselho de Ética da OAB/SE, formado por 14 membros e apenas 5 mulheres. “Como é que o Conselho de Ética da OAB Sergipe, com 14 membros e apenas 5 mulheres, vai julgar o caso desse advogado? Então a gente pede justiça à OAB”, reforçou Adenilde.

Na porta do Ipesaúde foi colocada uma cruz e o dirigente do SINTESE Joel Almeida denunciou a crueldade do governo de Sergipe que no primeiro ano de gestão aumentou a tarifa do Ipesaúde e piorou o atendimento de saúde oferecido aos servidores públicos.

Queima do Judas
A Câmara de Vereadores de Aracaju, o Poder Judiciário de Sergipe, a Assembleia Legislativa de Sergipe e a Procuradoria do Estado também foram alvo do protesto e receberam cruzes em suas portas.

No Centro de Aracaju, a professora Ivônia Aparecida Ferreira, vice-presidenta do SINTESE falou em frente à PGE. “Fazemos um apelo ao procurador geral de Sergipe para que ele não deixe o governador privatizar o estado inteiro, essa responsabilidade também é da procuradoria. A gente costuma ver nossos direitos sendo pisoteados na mesa de negociação e quando a PGE está presente é pra balançar a cabeça, é pra concordar com a retirada de direitos, nós não precisamos de uma procuradoria assim”, criticou a professora Ivônia. Na sede da PGE também foi colocada uma cruz de protesto.

No ato, Analice Soares, coordenadora geral do SINDIJUS, falou sobre direitos ameaçados dos trabalhadores do Poder Judiciário que está privatizando a Psicologia e o Serviço Social. Por isso o TJSE também ganhou uma cruz de protesto.

Na Câmara de Vereadores de Aracaju e na ALESE, teve pausa, discurso e cruz de protesto. Obviamente a privatização da água de Sergipe é um projeto político que contou com o voto de apoio da maioria dos vereadores de Aracaju. Sem esta permissão da Câmara de Vereadores de Aracaju, a água de Sergipe não seria vendida.

Na subserviência ao Poder Executivo, de forma semelhante e um pouco piorada, agiram a maioria dos deputados estaduais da Assembleia Legislativa de Sergipe (ALESE). A vice-presidenta da CUT/SE, Caroline Rejane Santos, recordou do dia em que a Mesa Diretora da ALESE ordenou que a guarda empurrasse os trabalhadores e trabalhadoras e impedisse que a população entrassem na ‘Casa do Povo’ para acompanhar a votação do projeto de privatização de todo o serviço público de Sergipe e também a privatização da água de Sergipe.

Antes da queima do judas, na porta da ALESE, a professora e ex-deputada Ana Lúcia, ressaltou que deputados e deputadas devem agir em favor de melhorias para a vida da população e não para retirar direitos e deixar a população sem serviço público e sem água.

O presidente da CUT Sergipe e do SINTESE, Roberto Silva enfatizou a unidade da classe trabalhadora sergipana.

"A marcha de hoje mostra o quanto centrais sindicais, movimentos sociais, juventude, movimentos populares estão juntos nas lutas pelas pautas que interessam aos sergipanos e sergipanas. O dia de hoje vai ficar marcado na história de Sergipe pela unidade dos trabalhadores e trabalhadoras contra as privatizações e em defesa de um serviço pública que realmente atenda às necessidade do povo".

Acesse as redes sociais da CUT Sergipe e confira os vídeos com pronunciamentos de vários dirigentes sindicais e militantes sociais que participaram da Marcha da Classe Trabalhadora.

Com informações das Assessorias de Comunicação do SINTESE e do Sindisan