Escrito por: Iracema Corso
A Marcha da Consciência Negra saiu da Maloca, Comunidade Remanescente de Quilombo Urbano, pelas ruas dos bairros Cirurgia e Getúlio Vargas, em Aracaju, na tarde do sábado, dia 19 de novembro.
A atividade de luta foi construída pela Associação Quilombola Ousadia e Alegria, Movimento Negro Unificado, Fórum Sergipano de Entidades Negras, Rede Mulheres Negras SE, Auto-Organização de Mulheres Negras Rejane Maria, CUT, CTB, CSP, UGT, Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, Grito dos Excluídos, entre várias outras organizações do movimento sindical e social que se fizeram presentes.
Nascido e criado na Maloca, o professor Roberto Amorim falou sobre a importância da representatividade política para a população negra do Brasil.
“A história que se conta para nossos alunos e para nossos filhos é a história eurocêntrica, do povo branco, dos reis e rainhas da Europa. Nós temos história, somos descendentes de reis e rainhas, mas eles queriam nos exterminar, têm raiva do que somos. E nós decidimos que não vamos morrer. Decidimos que vamos resistir, e que vamos continuar nesta luta porque a luta do povo preto é a luta da afirmação dos oprimidos, dos sem teto, das mulheres negras”, declarou Roberto Amorim ainda na concentração da Marcha.
Secretária de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT/Sergipe) Arlete Silva destacou que é preciso lutar todos os meses do ano e todos os dias para vencer a invisibilidade da violência racista, a fome, a baixa remuneração, o desemprego, o genocídio do povo preto e a exploração das trabalhadoras e trabalhadores negros.
“O nosso povo preto estuda e está lutando por emprego. As cotas raciais estão completando 10 anos neste ano, estão para a revisão. Ressaltamos e damos parabéns para todos nós pela vitória de Lula. É um aceno para o futuro. Se Bolsonaro tivesse ganhado, nossa luta seria destruída. A marcha hoje é em função da morte de zumbi, foi uma pessoa resistente, lutou, fugiu, não aceitou a escravidão. Precisamos lutar como Zumbi, como Dandara, diariamente por avanços e representatividade do povo negro na política e em todos os espaços”, afirmou Arlete Silva.
Invisibilidade, fome, violência desemprego e baixa remuneração
No triste ranking nacional da fome, Sergipe ocupa o 4º lugar com 30% da população com fome, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Pessan). Segundo dados do IBGE (1º e 2º trimestre/2022), a taxa de negros desocupados em Sergipe é de 12%, enquanto a de pardos é 13,1% e a de brancos 11%.
Os números mostram como a fome, a pobreza e o desemprego seguem lado a lado do racismo que persiste em Sergipe e no Brasil. Para reforçar este fato, a secretária nacional de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores, Anatalina Lourenço divulgou nesta semana que: “72% dos trabalhadores pobres do Brasil são negros”.
Para falar sobre os salários, a Contraf/CUT divulgou que os negros do Brasil recebem apenas 56,2% do que é pago aos brancos. Para a secretária de Combate ao Racismo da CUT/Sergipe, Arlete Silva, a desigualdade e a injustiça persistem sob o manto da invisibilidade, pois ainda são poucas as políticas de estado e providências tomadas em âmbito nacional e estadual para mudar esta realidade.
Assim, após 327 anos da morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, ainda há muita luta pela frente, muito estudo, muito esforço coletivo até a construção da democracia racial.
A Marcha da Consciência Negra em Sergipe foi permeada por muita cultura e teve ao longo do trajeto o som do Descidão Quilombola. A Marcha acabou na porta da Maloca, mas as apresentações culturais continuaram dentro da comunidade.