Escrito por: Zilda Souza*
Texto de Opinião produzido pela *presidenta da Associação de Mulheres e Homens Pescadores Nossa Senhora Aparecida do Serrão/Ilha das Flores
O Encontro de Expo Pesca trouxe muitas novidades positivas para as pescadoras e pescadores de Sergipe. Na região do Baixo São Francisco, em Sergipe, necessitamos mesmo do apoio do Governo do Estado e do Governo Federal, pois a situação do Rio São Francisco não é boa.
Sobre nós, pescadoras e pescadores artesanais, muito pouco foi dito. Ouvimos o pessoal do agronegócio falar sobre pesca em larga escala, gente que pesca mais de 2.500 quilos de peixe de uma vez só. Isso não é a nossa altura.
Para a gente que margeia o rio São Francisco com água doce, é outra realidade. A gente sofre diretamente com a poluição do Rio São Francisco e precisamos que providências sejam tomadas. Também sofremos com a extinção dos peixes como surubim, dourado e muitos peixes que existiam no Rio São Francisco e hoje não existem mais. O próprio pitu, já teve muito pitu no rio São Francisco e hoje não tem mais.
O projeto apresentado pelo Governo de Sergipe para a pescadora e o pescador artesanal foi a implantação de tanques escavados para criar levinos, tilápias e tambaquis em caixas; a criação do pitu em cativeiro até que ele consiga crescer. Com pouco, é possível fazer isso. Vai ser muito bom ter este projeto para o pescador artesanal. Também se falou em colocar o peixe e o filé de camarão na merenda escolar. Vai ser bom para as crianças e vai ser bom para os pescadores.
No entanto, assim como nós ouvimos as autoridades presentes, eu gostaria que as autoridades continuassem no evento para ouvir os pescadores artesanais também, porque vivemos a realidade do rio São Franscico diariamente e temos muito o que falar. A necessidade das comunidades ribeirinhas é urgente. Precisamos de água limpa nas nossas casas e de saneamento básico.
O apoio aos pescadores não pode demorar. Já esperamos muito. No rio São Francisco tem muito siri e toda a vez que a gente joga a rede, ela volta esburacada. Para consertar a rede, precisamos de nylon, que não é barato e é uma necessidade constante de quem pesca. Muitas famílias se dividem em embarcações, precisamos de projetos para conseguir mais embarcações.
Muitas de nós também somos agricultores familiares, cultivamos nossas hortas em casa, e atualmente a minha associação luta pelo direito de fazer o Cadastro da Agricultura Familiar (CAF). É muito difícil a burocracia que a gente enfrenta para a liberação de uma senha. Isso deveria ser mais fácil para nós que trabalhamos com o INSS e com o Ministério da Pesca diretamente. Se nós conseguimos o acesso ao Programa de Aquisição de Alimento (PAA), por que esta dificuldade de ter acesso ao CAF?
Cadê a revitalização do Rio São Francisco? Quando chega o dia internacional da água, as crianças fazem trabalhos escolares, mas não sai disso. Precisamos de ações efetivas.
Por isso repetimos ao Governo Federal e ao Governo de Sergipe que escutem as pescadoras e pescadores da beira do rio que moram longe, nós precisamos de soluções urgentes para melhorar as vidas das nossas famílias.