No Julho das Pretas, CUT Sergipe debate ‘Mulheres Negras que estão em movimento'
“Nós somos a base da nossa sociedade, nós somos a base do mundo, nós precisamos nos movimentar e de mãos dadas”, afirmou Amanda Rodri (Grupo Despertar com Consciência)
Publicado: 21 Julho, 2025 - 10h48 | Última modificação: 21 Julho, 2025 - 11h26
Escrito por: Iracema Corso

A Secretaria de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT-SE) promoveu em sua sede a Roda de Conversa ‘Mulheres Negras que estão em movimento’, na sexta-feira, dia 18 de julho.
A atividade feminista e antirracista celebrou o Julho das Pretas, que faz menção ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho.
A secretária de Combate ao Racismo, Arlete Silva, fez a abertura da Roda de Conversa: “A CUT-SE é a casa da mulher trabalhadora, é a casa da mulher negra. Sejam bem vindas e a casa é sua. É gratificante receber essas importantes militantes para este momento de troca e fortalecimento”.
Através de uma mística conduzida pela terapeuta holística, artista, artesã e criadora do Grupo Despertar com Consciência, Amanda Rodri, as mulheres se conectaram com a sua ancestralidade feminina negra, buscando apoio, força para conduzir a luta pela vida e a luta pelas conquistas necessárias.
“A sociedade não é feita para a mulher preta. E a gente precisa construir o nosso lugar na sociedade. Isso é muito difícil. A gente precisa se esforçar, ser a melhor para que a gente consiga ser vista. E quando a gente conquista um lugar na sociedade, temos que matar um leão por dia para se manter neste lugar. Por isso é tão necessário o nosso ‘aquilombamento’, a construção de nossa rede de apoio, nós precisamos disso”, afirmou Amanda Rodri.
A terapeuta holística Amanda Rodri lembrou que o primeiro ventre do mundo foi de uma mulher preta. “A gente precisa do nosso pertencimento, da valorização da contribuição cultural, medicinal e histórica dessa ancestralidade, uma valorização que nos foi negada, e nós precisamos construir uma nova história”, ressaltou.
A jornalista Wanessa Fortes, coordenadora geral do Movimento Negro de Sergipe (MNU), falou sobre a necessidade do autoconhecimento e contou um pouco de sua história de vida que começou na periferia de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
“Para as crianças pretas é muito importante ter uma referência. Lembro que foi marcante ver pela primeira vez na vida uma pastora preta. Eu gostava também da Revista Raça que era onde eu encontrava muitas mulheres pretas. Isso é fundamental na infância da criança preta. A gente precisa de uma referência que nos tire dali”, observou Wanessa.
A coordenadora do Movimento de Mulheres Olga Benário e vice-presidenta estadual do partido Unidade Popular pelo Socialismo, Bruna Bitencourt, destacou o papel da escola no combate ao racismo para que não haja o reforço do estigma do negro escravizado, uma representação humilhante nos livros que fere a autoestima das crianças provocando vergonha e medo de ser negro.
Bruna Bitencourt contou momentos difíceis em sua vida, quando passou fome, de não tinha casa e durante a pandemia passou dificuldade com o corte do auxílio estudantil.
Bitencourt falou sobre a linda experiência de construção de uma cozinha coletiva na ocupação. “Com a construção dessa cozinha coletiva, eu voltei a ter perspectiva de vida. O ser humano é um ser coletivo. Se ele se isola, ele adoece e morre".
Fabrícya Wilke, presidenta da Comissão de Igualdade Racial da OAB/SE declarou que, frente ao racismo estrutural, é um grande desafio ser uma mulher advogada negra.
“Você não só precisa ser a melhor profissional, mas o seu conhecimento, a sua competência vão estar sempre sendo questionados por alguém. Então é muito difícil ser uma advogada negra. O estudo me abriu portas e me fortaleceu para que eu pudesse ser quem eu sou, por isso eu digo que tudo o que eu sou é por causa do estudo”, declarou Fabrícya Wilke.