Escrito por: Coletivo LGBTQIA+ da CUT/Sergipe
O Coletivo LGBTQIA+ da CUT/Sergipe (Central Única dos Trabalhadores) repudia a atitude do delegado André David que usou o seu perfil particular do Instagram para falar em nome da Polícia Civil e incitar a violência transfóbica.
Imagens da Secretaria de Segurança Pública ao registrar em Aracaju, no último fim de semana, um caso de agressão envolvendo transexuais foram usadas na rede social do delegado.
Se existem os canais oficiais de comunicação da Polícia Civil, qual o sentido do delegado usar o seu perfil pessoal do Instagram para divulgar essas imagens e promover uma espécie de ‘júri popular’ nas redes sociais?
O que parece é que o candidato derrotado nas últimas eleições achou oportuno usar esta situação de violência para engajar sua rede social e fazer uma espécie de 'propaganda transfóbica'. É interessante refletir: com qual objetivo?
Depois de descumprir a portaria 31/2021 sobre a conduta de servidores da Polícia Civil ao divulgar informações sigilosas e dados que levam à identificação física de vítimas adultas; antecipar a culpa no sentido estrito dos investigados; e ferir o princípio da impessoalidade, pode-se dizer que o delegado André David também descumpriu a Lei 4122/1999 que institui a Carreira de Delegado de Polícia e determina que: “qualquer delegado é proibido de se manifestar publicamente ‘por qualquer meio de comunicação’ sobre inquérito que esteja presidindo”.
Mas não bastou negar a identidade de gênero das envolvidas, fazer prejulgamento de todos antes do início da investigação, usar informações e imagens da Secretaria de Segurança Pública para engajar suas redes sociais. O delegado André David ainda foi às emissoras de rádio para conceder entrevista e assim exalar sua transfobia para conquistar um maior alcance de público numa espécie de ‘campanha publicitária homofóbica’.
Assim, diante de tantas irregularidades, na manhã desta terça-feira, dia 23 de janeiro, a CUT Sergipe enviou um ofício para o Secretário de Estado de Segurança Pública, coronel Andrade, e para o governador de Sergipe Fábio Mitidieri cobrando um posicionamento sobre a apuração de todos os desvios de conduta praticados pelo delegado André David.
Ao mesmo tempo, a CUT/SE se solidariza com toda a população trans de Sergipe pelos efeitos em cadeia da difusão de mensagens transfóbicas nos meios de comunicação e redes sociais criando uma situação que reforça o cenário de violência, pré-conceito e linchamento social de pessoas LGBTQIA+.
É necessário lembrar aos responsáveis pela segurança pública no estado de Sergipe que: o Brasil é o país com mais mortes de pessoas trans e travestis no mundo pelo 14º ano consecutivo, segundo o Dossiê Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) publicado na Agência Brasil.
Para mudar esta realidade, é preciso de formação, conscientização e preparo de todos os profissionais que lidam diariamente com a segurança pública no estado de Sergipe, no esforço de que suas condutas não reforcem o preconceito e a violência transfóbica.