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O que a morte Bin Laden esconde?

Barack Obama vibrou. A notícia é a de que o terrorista saudita Osama Bin Laden foi executado com um tiro na cabeça em uma operação realizada no dia 1º por 24 homens de um grupo de elite da Marinha estadunidense. Até o fechamento desta edição (no...

Publicado: 13 Maio, 2011 - 14h40

Escrito por: Laisa Galdina

Barack Obama vibrou. A notcia a de que o terrorista saudita Osama Bin Laden foi executado com um tiro na cabea em uma operao realizada no dia 1 por 24 homens de um grupo de elite da Marinha estadunidense. At o fechamento desta edio (no dia 3), a filmagem da operao, transmitida ao vivo na Casa Branca, ainda no havia sido veiculada.

Esse e outros fatos colocam as circunstncias da morte de Bin Laden atrs de uma cortina nebulosa. Para o clima ficar ainda mais incompreensvel, o Pentgono anunciou que o corpo do terrorista foi lanado no mar da Arbia e se defende de tal ao argumentando que seu tmulo poderia se transformar num santurio do radicalismo.

Surgem as dvidas. Por que somente agora o encontraram? E toda a tecnologia disposio dos agentes secretos estadunidenses? Por que eles no se valeram dos inimigos polticos paquistaneses da Al Qaeda?

Tudo indica que Bin Laden estava sendo monitorado e acompanhado h anos pelos Estados Unidos, afirma o professor de geopoltica da Fundao Santo Andr, Marcelo Buzetto. Para sustentar sua posio, ele cita o livro Guerra e globalizao, do escritor canadense Michel Chossudovsky, que aponta que, j em 2001, o dia a dia do saudita era observado pela inteligncia estadunidense, visto que haviam surgido informaes de que, na poca, ele teria sido atendido num hospital paquistans.

Vulnervel

Bin Laden estava vulnervel, fcil de ser capturado. o que defende Buzetto. Segundo ele, setores da oposio ao governo do Paquisto j denunciavam h vrios anos que o terrorista vivia no pas e nunca houve nenhum movimento, at mesmo diplomtico, dos Estados Unidos, para captur-lo, acrescenta.

O professor de Relaes Internacionais da Universidade de Braslia (UnB), Virglio Arraes, tambm se embrenha na poltica paquistanesa para compreender o assassinato de Bin Laden, mas acredita que a localizao do terrorista pode ter sido justamente atribuda a um dissenso criado dentro do governo. Enfraquecido, o atual governo pode ter negociado com os Estados Unidos a entrega de Bin Laden em troca de maior apoio poltico e econmico, dado que no seria possvel para o grupo dele [Bin Laden] residir prximo a uma academia militar inclume por muito tempo, a no ser que houvesse um acordo (oficioso, ao menos), conclui.

Alis, de acordo com o socilogo Jos Farhat, por conta desse dissenso dentro do governo paquistans e por este pas se configurar como uma democracia de fachada, algumas instalaes governamentais que apoiam os Estados Unidos e aliados tendem a sofrer uma escalada de ataques terroristas.

Tribunal

Ainda sobre as circunstncias do assassinato do saudita, por que os Estados Unidos perderam a grande oportunidade prend-lo e, por meio de interrogatrio, descobrir at onde os braos da Al Qaeda vo?

No terem o cuidado de o prenderem e lev-lo a um julgamento, se fosse o caso, at a um tribunal internacional, s fortalece a tese de queima de arquivo. Ou seja, demos armas, dinheiro e apoio politico a ele, e depois perdemos o controle, acredita Buzetto (leia matria nesta pgina).

O professor de geopoltica refora que no a primeira vez na histria que os Estados Unidos neutralizam ex-aliados. Ele traa um paralelo com a histria poltica do ex-presidente do Iraque. Saddam Hussein iniciou a guerra Ir-Iraque com o dinheiro e as armas dos Estados Unidos, e, de 1980 a 1988, foi aliado dos Estados Unidos. Foi morto [enforcado em 2006] aps aquele julgamento apressado, lembra.

Mesmo com todas as dvidas e rumores que rondam as aes e intenes de Barack Obama, grande parte da imprensa internacional celebra o acontecimento como a vitria contra o terrorismo. O presidente estadunidense comemorou ainda mais, dado o repentino aumento de alguns pontos percentuais de sua popularidade. a primeira vitria de Obama nas duas guerras, ainda que simblica. Isso pode significar um nimo maior na campanha eleitoral para a presidncia [em 2012], mas no nos dois confrontos [Iraque e Afeganisto], j perdidos, opina Virglio Arraes.

Ofensiva imperialista

Para a historiadora Arlene Clemesha, professora de histria rabe da Universidade de So Paulo (USP), o anncio da morte de Bin Laden poderia representar o incio do fim de uma era de guerra contra o terror. De fato, poderia. Deixa de existir o motivo para os Estados Unidos manterem sua presena no Afeganisto, no Iraque e no Paquisto; eles poderiam anunciar realmente o fim de uma era difcil para os rabes, para os islmicos e para o mundo, salienta Clemesha.

Mas a vitria da liberdade e da democracia parece que ainda no foi alcanada com a morte de Bin Laden, de acordo com a secretria de Estado dos EUA, Hillary Clinton, que fez questo de lembrar que o assassinato do lder da Al Qaeda no deve frear o combate ao terror.

Declaraes de mesmo tom de Hillary reforam uma outra tese, a de Marcelo Buzetto. O assassinato de Osama tambm pode significar nova ofensiva do imperialismo sobre o norte da frica e o Oriente Mdio, afirma. Para ele, Obama quer se aproveitar da brecha de poder aberta a partir das revoltas no mundo rabe para impedir o crescimento da influncia de figuras como Bin Laden.

Mas, tal argumento, que destaca o assassinato do saudita como uma forma de barrar sua influncia no mundo, no deve ser levado to em conta, segundo Arlene Clemesha. Ela pondera que a chamada Primavera rabe, pelo seu carter democrtico, j demonstrou a irrelevncia do terrorista no mundo rabe-islmico.

Fonte: Eduardo Sales de Lima - Brasil de Fato