Escrito por: Iracema Corso

O que podemos aprender com o Amapá?

"Nordeste não pode viver o que a população do Amapá enfrentou no escuro e sem água", destacou Sérgio Alves (presidente do SINERGIA)

Às 20h40 do dia 3 de novembro, a subestação de energia na capital de Macapá pegou fogo e levou ao desligamento automático da linha de transmissão. O Apagão no Amapá atingiu 14 dos 16 municípios do estado.

Depois do ocorrido, trabalhadores da Eletronorte, empresa estatal da Eletrobrás atuaram todo o mês de novembro no Amapá para resolver o problema causado pela má gestão da empresa privada espanhola Isolux.

Finda o mês de novembro e a população do Amapá ainda tem que lidar com um rastro de destruição. A falta de energia fez com que a população ficasse sem água nas torneiras, enfrentasse a perda de alimentos, a perda de utensílios eletrônicos, além das casas incendiadas por curto circuito e assaltos no meio da escuridão. Volta da energia não acaba com o drama do povo do Amapá. Prejuízos são irreparáveis.

O drama que a população do Amapá vivenciou no mês de novembro trouxe uma grave lição para a população brasileira, pois a empresa privada espanhola Isolux, responsável pelo problema, não tomou qualquer atitude para solucionar o ocorrido. Todo trabalho de manutenção e reconstrução da rede elétrica do Amapá foi feito por trabalhadores da empresa pública Eletronorte.

Dirigente do Sinergia, Sérgio Alves reforçou que todo o Brasil precisa pensar sobre o que aconteceu no Amapá. “Está comprovada a ineficiência do serviço privatizado, principalmente no que se refere à geração de energia. A subestação de Macapá é gerida por uma empresa privada, estrangeira. Infelizmente por falta de manutenção, de investimento, de negligencia, de equipamentos sobressalentes para fazer a reposição, entre vários outros problemas, a população do Amapá enfrentou esta situação inacreditável. A empresa privada fica com o lucro, mas o problema quem resolve mesmo, quem vai socorrer a população é a Eletronorte, empresa estatal da Eletrobrás”, criticou.

O dirigente sindical culpou a privatização da energia pelo Apagão do Amapá e reforçou que o Brasil precisa enxergar o que aconteceu. “Foram mais de duas semanas com 700 mil cidadãos e consumidores no escuro, sem energia e sem água. Uma população próxima numericamente à população de Aracaju. Isso é terrível. O Amapá é o retrato do que acontece quando você vende as empresas geradoras de energia”, denunciou.

Na avaliação de Sérgio Alves, é urgente denunciar o que aconteceu no Amapá porque o projeto político do governo Bolsonaro é privatizar o sistema Eletrobrás. “É triste demais ver o que está acontecendo com o nosso País. Aqui em Sergipe, lutamos para que a Chesf não seja privatizada. É de conhecimento de todos que temos uma subestação no município de Socorro e se vier a ter algum problema, nas mãos de uma empresa privada, as conseqüências seja parecidas com o que aconteceu no Amapá”, alertou.

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O sindicalista alertou que o Nordeste não pode viver a situação que a população do Amapá enfrentou em Novembro.

“A Chesf mantém essas estações de grande porte com a manutenção adequada, a gente quase que não sente blackout, apagão e falta de energia aqui no Nordeste. A gente está se somando à luta contra a privatização da Chesf pra que não aconteça de novo em Sergipe, no Nordeste e no Brasil a mesma situação que a população do Amapá viveu”, afirmou Sérgio.

O AMAPÁ DESPERTOU
O Apagão no Amapá foi marcado por manifestações numerosas quase todos os dias. Os protestos não tiveram cobertura da mídia nacional. No entanto, mesmo sem a merecida visibilidade, os protestos foram fundamentais para unir a população e despertar a consciência, de acordo com a secretária de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT/Amapá), Neuza Castro.


“A população do Amapá passou por várias privações em casa e nos hospitais sem energia, sem água em plena pandemia. Bolsonaro só veio aqui 19 dias depois. Ninguém sabe o que ele veio fazer aqui. Não resolveu nada do nosso problema e recebeu vaias da população sofrida demais neste mês de novembro”, revelou a dirigente sindical da CUT Amapá.

Segundo Neuza Castro, os protestos foram duramente reprimidos pela Polícia e manifestantes foram chamados a depor, presos, outros vítima de agressão física praticada pela polícia. “Conheço 3 manifestantes que foram levados para a delegacia. Foi um horror o que passamos. Mas quanto mais a polícia reprimia os protestos, maiores eram as manifestações, no Centro da cidade, no fim da tarde, em frente ao Palácio do Governo”, revelou a sindicalista.


Mesmo com o fim do Apagão do Amapá anunciado, alguns municípios enfrentam instabilidade no que se refere à energia. O município de Lorenzo passou o fim de semana sem energia. Na última sexta-feira, aconteceu apagão no Centro de Macapá, onde os semáforos continuam sem funcionar.

Para Neuza Castro, não há garantia alguma de que a situação está resolvida em definitivo. “O que vai acontecer com a empresa privada responsável pelo que vivemos? O que aconteceu em Mariana? Em Brumadinho? Mas pelo menos a população compreendeu o risco da privatização diante da irresponsabilidade da empresa privada estrangeira que deu um show de incompetência no serviço prestado. Quem ganha com a privatização? Só as empresas privadas. A população tem muito a perder. O Amapá aprendeu esta lição de forma muito dura. Espero que o Brasil não precise passar por isto”, afirmou.

Imagens cedidas pela CUT Amapá