Escrito por: Professor Dudu (ex-presidente da CUT/SE)

OPINIÃO: A Operação Cajueiro e a sua memória mais viva em Marcélio Bonfim

Foi exatamente no dia 20 de fevereiro de 1976 que as forças armadas iniciaram em Sergipe uma tenebrosa perseguição aos comunistas que entrou para a história com o nome de Operação Cajueiro.

O objetivo era aniquilar o PCB – Partido Comunista Brasileiro em todo o território nacional que mesmo na clandestinidade continuava organizando setores da classe trabalhadora e por isso a operação contou com o comando nacional mais as forças de repressão da Bahia e Sergipe.

É fundamental que as vítimas da Operação Cajueiro que sofreram torturas nos porões do 28º Batalhão de Caçadores em Aracaju mantenha a memória viva para evitar que a história se repita.

Nesse aspecto ninguém tem feito mais esse esforço do que Marcelio Bomfim que tem palestrado em escolas, universidades, espaços sindicais, no movimento popular e em qualquer lugar que seja convidado a falar sobre o tema.

Eu imagino o que se passou na cabeça dos ex-presos políticos sergipanos ao verem um acampamento em frente ao Quartel do Exército (28º BC) organizado por bolsonaristas que pediam intervenção militar após a eleição vencida por Lula.

Marcelio entrou para a luta política ainda muito jovem e um dos influenciadores foi Félix Mendes (artista plástico já falecido). Os dois se conheceram durante uma panfletagem em frente ao Colégio Estadual Tobias Barreto.

Após a prisão e torturas Marcelio deixou o Brasil por orientação da direção nacional do PCB e se exilou em Moscou ainda durante a Guerra Fria entre URSS e EUA.

O jovem Marcélio além de militante do PCB foi um dos fundadores do PT inclusive foi candidato a governador no início do partido e em seguida eleito duas vezes vereador de Aracaju, uma pelo PSB e outra pelo PPS.

Um fato que merece registo foi durante o primeiro governo de Lula e o debate sobre a instalação da comissão da verdade ganhava fôlego e os militares trataram de dar fim a documentos que servissem como prova das torturas e assassinatos promovidos por eles durante o regime ditatorial.

Durante uma matéria da TV Globo na Base Naval em Salvador sobre os arquivos da Ditadura Militar, a jornalista registrou uma pilha de documentos queimados nos arredores da base naval, porém o fogo não fez o serviço completo e eis que aparece uma foto de Marcelio Bonfim anexada a um dossiê.

Ele estava na mira da Ditadura mesmo depois de tanto tempo e de estar em pleno mandato de vereador.

Mesmo durante o carnaval, não podemos deixar de lembrar de quem sofreu na pele literalmente para defender a liberdade.

Que as novas gerações procurem conhecer a história de gente como Marcélio Bonfim, Antônio José de Gois (Goisinho), Milton Coelho, Pedro Hilário, Antônio Bitencourt, Gervásio Santos, Wellington Mangueira, Edson Sales etc.

Na foto Marcélio Bonfim e Lula no início do PT quando o metalúrgico tentava convencer Marcelio a colocar o nome como candidato a governador em Sergipe.