Escrito por: Fernando Gramoza e Yure Lima, professores da Rede Estadual

Opinião: NEM-NEM

Cresce, na atual conjuntura, o número de jovens “Nem-nem”. Não são crianças, como pode soar ao ouvir essa expressão. Eles e elas são os (as) jovens que nem estudam e nem trabalham. Vamos, caro (a) leitor (a), pensar a respeito!

Sobre não estudar escreveremos mais a diante; já os que não trabalham, tão certamente, não o são porque sobram vagas e postos de trabalho, mas, antes, são reflexo do modelo econômico e do projeto de desastre que o atual governo federal vem implementando. Este que desmonta as estruturas (órgãos, leis, normas, instituições etc.) retirando, assim, direitos e consolidando sua agenda ultraliberal. O lucro dos banqueiros, dos rentistas e do agronegócio está acima do interesse da coletividade. Por isso os ataques constantes aos direitos sociais como à educação, à seguridade social, ao trabalho e renda e às políticas de inclusão, como o Bolsa Família.

Não é difícil entender que mais essa desassistência do Estado é um projeto que visa a privatização do que é público e, portanto, assiste à classe trabalhadora. Acerca da desistência de estudar que acomete vários dos filhos e filhas dos trabalhadores (as), é dito que o atual modelo educacional não atrai os (as) alunos (as), dizendo que é preciso reformulá-lo, pois ele não faz sentido para os jovens. É dito ainda que a culpa desse insucesso também é dos professores (a).

Se você leitor (a) for professor (a) ou, ao menos, tem filhos e filhas matriculados (as) no sistema público de ensino sabe da improcedência dessa culpabilização do corpo docente. Sabe ainda que, ao contrário do que é dito, os professores (as) e suas representações sindicais se desdobram para fazer frente às ações que beneficiam empresários e fundações e tentam suprir as necessidades provocadas pela falta de investimento na educação pública.

“O caminho do inferno está pavimentado de boas intenções”. Com essa frase atribuída a inúmeros pensadores ao longo da história da humanidade – tais como ao místico medieval Bernardo de Claraval, ao literato inglês do século XVIII Samuel Johnson, a Honoré de Balzac no XIX e, até mesmo, ao principal teórico do socialismo real, Karl Marx – cabe lembrar que a senda para privatização é antes ladrilhada pelo desfinanciamento e pelo sucateamento. Sendo assim – e somado ao aqui já mencionado modelo capitalista –, a implantação do Novo Ensino Médio (NEM), em vias da suposta busca de sentido para a educação escolar do jovem, esconde os passos iniciais para o modelo privatista de educação e de desprofissionalização do trabalho docente, fragmentando, desse modo, a ideia de totalidade do conhecimento advinda do ensino do conjunto das disciplinas escolares.

Para além disso, vale constatar que estamos vivendo tempos imediatistas, “líquidos e fluídos” (Zygmunt Bauman, 2007), onde existe apelo à conquista de riqueza e desprezo pela ciência e pelo estudo como forma de ascensão social. Vivemos, uma “espetacularização da vida em sociedade” (Guy Debord,1967), vide as redes sociais e os tantos realities shows, os youtubers e afins. Nesse meio do aparente, a vida comum passa a ser extraordinária e não é necessário saber para ter, basta conquistar seguidores que a riqueza material será consequência. Tudo isso para ter coisas, e, como diria Chico César, “coisas são só coisas, um fardo para carregar”, “de uns tempos pra cá” (2006).

De fato, entendemos que a educação pública precisa ser reformulada. Não obstante para copiar modelos importados ou que romantizam a pobreza, dando nome de empreendedorismo ao esforço hercúleo de sobrevivência do nosso povo. Empreender para a classe trabalhadora significa “vender o almoço para comprar a janta”. E os “Nem-nens” são parte do crescente exército industrial de reserva, que são utilizados como ferramenta pelo sistema capitalista para baratear o preço da mão de obra. E o NEM não é a panaceia para os nossos males educacionais.



O sistema capitalista, em sua fase atual de restruturação, não quer permitir o fortalecimento do sistema público de assistência social. Pensamos que a ofensiva a esse ataque, a essa contrarreforma precisa se dá pelo viés da resistência crítica ao empreendedorismo, substituindo-o pelo cooperativismo, pelas associações e pela reunião e organização do nosso povo, em nome da emancipação política e social que almeja a revolução pela qual muitos, como Carlos Marighela, lutaram.

Sim, uma revolução, que passa pela difusão do conhecimento, pela tomada de consciência política e por ações contundentes que afastam o autoritarismo e as práticas antidemocráticas das escolas e da vida cotidiana. Não podemos aceitar calados (as) uma contrarreforma do sistema educacional que não surja do “chão da escola” ou que, minimamente, não seja amplamente debatida.

Uma considerável pergunta a ser feita para continuarmos a trilhar esse caminho, caro (a) leitor (a), é: porque, em 2018, dissemos sim ao militar opressor e autoritário e não ao professor que da educação já foi ministro e secretário?