A violência contra a mulher no transporte público é o tema deste texto que eu estou escrevendo na primeira pessoa, porque eu já fui vítima desse tipo de violência. Foi muito horrível e muito humilhante ser violentada, a caminho do trabalho, dentro de um ônibus.
Era uma tarde qualquer, pela altura dos meus 25 anos de idade. Como o trajeto era muito longo, com mais de 2h de ônibus, eu sempre levava um romance para ler, por isso demorei um pouco a perceber a situação de abuso sexual.
Quando me dei conta de que eu estava sendo abusada sexualmente, fiquei muito desnorteada, enojada e sentindo muita vergonha. A única coisa que eu consegui fazer foi pagar a passagem e descer do ônibus. Depois chorei, e me limpei, pois o agressor ejaculou na minha calça.
Naquele dia não consegui trabalhar, voltei pra casa, joguei a calça no lixo, tomei um banho e um chá pra me acalmar. Mas continuei com uma dor entalada na garganta. Nunca esqueci daquele dia horrível, aquela violência fez com que eu me sentisse menor.
A humilhação sempre voltava na minha cabeça, o nojo, a sensação de impotência, uma terrível paralisia, a dureza dos olhares de julgamento das pessoas que estavam no ônibus e também não fizeram nada para me ajudar, e ainda me olhavam como se estivessem me culpando pela violência que eu estava sofrendo.
Inclusive, por muito tempo eu me senti culpada pela violência que eu sofri. Mesmo pequenas violências como esta deixam marcas dolorosas de medo, nojo e culpa.
Passados mais de 20 anos, trago este relato da violência para dar algum amparo a outras mulheres que sofreram esse mesmo tipo de violência, com certeza muitas mulheres já passaram por isso, e para que não se sintam menores como eu me senti. A culpa não é sua. O tarado que te agrediu merece ser denunciado e punido pelo crime que cometeu contra o seu corpo. Não sinta nojo de você mesma. Acolha o seu sofrimento por essa violência, e cuide da sua dor. O seu corpo é a sua casa, ele é o seu local sagrado de paz e merece, hoje amanhã e sempre, todo o seu amor próprio.
Desde o início dos tempos, a humanidade é gerada dentro de um corpo feminino, portanto, por gratidão e zelo, todo corpo feminino merece respeito e, além disso, é urgente que a humanidade aprenda a ter empatia com a mulher que é vítima de qualquer forma de violência sexual.