Por Margarida e pela reconstrução do Brasil, 570 sergipanas marcham em Brasília
Luta pela valorização das mulheres agricultoras rurais retorna da Marcha das Margaridas fortalecida pela homenagem e pelas conquistas alcançadas
Publicado: 18 Agosto, 2023 - 15h02 | Última modificação: 18 Agosto, 2023 - 16h05
Escrito por: Iracema Corso
A agricultora e liderança sindical, Margarida Alves, assassinada em Alagoas no ano de 1983, foi inserida no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria a partir da Lei 14.649 sancionada pelo presidente Lula e publicada no Diário Oficial da União na quinta-feira, dia 17 de agosto.
Após 40 anos do assassinato de Margarida Alves, o Estado brasileiro reconheceu a importância desta mulher, trabalhadora rural e presidenta de Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais (STTR), para a história do Brasil. Através desta atitude política, o Estado brasileiro valoriza e agradece a cada trabalhadora rural que, nos mais longínquos municípios e povoados da nação, planta, colhe, produz alimento e leva a comida à mesa, sem diminuir a dedicação na construção da luta por educação e por dias melhores para as famílias de agricultores rurais.
Nos dias 15 e 16 de agosto, a 7ª Marcha das Margaridas levou 100 mil mulheres a Brasília para fazer história e alcançar importantes conquistas. A homenagem na abertura da Marcha das Margaridas contou com a presença de representantes de 33 países que vieram ao Brasil para prestigiar este momento especial. Acesse o link e leia também a matéria da CUT Brasil sobre a 7ª Marcha das Margaridas.
Margaridas de Sergipe
Do Estado de Sergipe, saíram 12 ônibus para a Marcha das Margaridas, reunindo uma enorme delegação com 570 trabalhadoras rurais, filiadas a 55 sindicatos de trabalhadoras rurais de vários municípios sergipanos.
Foram 32 horas de viagem de ônibus e a trabalhadora rural do Sindicato de Trabalhadores Rurais de São Cristóvão e dirigente da CUT Sergipe, Maria do Carmo, garantiu que todo o esforço valeu a pena, pois as Margaridas marcharam por direitos; contra todas as formas de violência; por uma vida sem racismo, sem sexismo, sem preconceito de qualquer forma; pelo fim da fome, pela agroecologia, pela democracia participativa, pela educação no campo, por saúde, por previdência e assistência social, por soberania popular, pela defesa dos territórios, pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver.
Maria do Carmo disse que muitas mulheres e homens passaram mal devido ao sol forte e clima seco de Brasília, algumas chegaram a desmaiar e precisaram de atendimento médico porque mesmo na roça, quando se trabalha embaixo do sol, o serviço começa bem cedo para não pegar o desgaste do sol a pino.
“Foi duro, mas lavamos nossa alma marchando ao lado desta mutidão de mulheres que elegeram nosso presidente Lula. Por isso estivemos lá, demos o nosso sangue, demos o que tínhamos, chegamos ao ponto de cair, mas levantamos e construímos esta Marcha linda e vitoriosa das mulheres agricultoras. Juntas, mulheres do campo, da floresta e das águas, nós marchamos muito felizes em Brasília. Algumas por estarem vindo a primeira vez, outras por diversas vezes viverem este momento especial. E agradecemos a todas as mulheres que colaboraram com rifas, doações, para que pudéssemos construir a Marcha contagiante de amor pelo Brasil que trabalha e produz vida. Margarida hoje não é só uma flor, mas a primavera com todas as flores e sementes plantadas da nossa luta”, declarou emocionada Maria do Carmo.
A agricultora e dirigente sindical explicou que a 7ª Marcha das Margaridas começou há quatro anos. “Nós, mulheres rurais agricultoras familiares já começamos cedo com a preparação psicológica dos familiares, a luta contra o machismo é diária. Depois tem a organização da nossa casa e da produção para que possamos vender os produtos da agricultura familiar com os quais nos sustentamos. Além do artesanato da palha, da cabaça, dos tecidos, do crochê, fazemos renda irlandeza, artesanato de reciclagem, tudo para vender e fazermos ‘a caixinha’ para a próxima viagem. Ainda levamos, vendemos e compartilhamos na Marcha os chás, o xarope da vovó, as pomadas, os óleos… Entre outros produtos”, revelou Maria do Carmo.
A agricultora Maria do Carmo contou que esta uma longa preparação se intensificou nos últimos dois meses. “Driblamos todo tipo de acontecimento de última hora, inclusive de ordem pessoal. A luta para conseguir o transporte não é pequena. Muitos governantes não nos atendem e nem nos dão resposta, por isso faço questão de agradecer os apoios", reforçou. Maria do Carmo agradeceu o apoio da CUT, do SINTESE, do SINDIPEMA e de todas as organizações parceiras que se somaram para viabilizar 12 ônibus, além do apoio do prefeito de São Cristóvão, Marcos Santana (PSD), que disponibilizou 2 ônibus e do deputado federal João Daniel (PT) que garantiu 5 ônibus.
Em Brasília
Assim que chegaram em Brasília, as Margaridas de Sergipe participaram de oficinas de Agroecologia, de Cuidados, de Batucada, entre outras. Depois aconteceu a abertura da Feira das Margaridas e cada estado expôs seus produtos.
No dia 16, quarta-feira, a Marcha das Margaridas começou cedo, às 7h da manhã, saindo do Parque da Cidade até a Praça dos Três Poderes e terminou antes do meiodia com o pronunciamento de Lula e da primeira dama Janja, com a presença de várias ministras e ministros para responder à Carta de Reivindicações entregue pelas Margaridas.
A trabalhadora da agricultura familiar e secretária geral do SINTRAF Lagarto, Verônica Souza Santos Oliveira, ficou muito feliz com o acolhimento do presidente Lula. "Foi um dia muito importante para nossa luta. Entre as conquistas, eu destaco a duplicação dos pontos das mulheres, que terão 10 pontos a mais que homens, para entrar no Programa de Reforma Agrária. Acredito em dias melhores e com essas inclusões, mulheres mais empoderadas, mulheres tendo sua própria renda, tendo direito ao Pronaf, assistência técnica, energia rural e água potável”, comemorou Verônica.
A agricultora também reforçou a alegria de ter tais conquistas a partir de uma luta coletiva. “A Marcha das Margaridas nos mostrou que as políticas públicas podem chegar nos nossos municípios e que a união faz a força. E todas essas conquistas, somos nós, mulheres, que fizemos a pauta e mostramos o que queremos pro nosso Brasil", ressaltou com orgulho Verônica do povoado Pururuca em Lagarto.
Um Passo a frente na Luta
Além da homenagem a Margarida Alves e do compromisso de levar saúde, cidadania e políticas públicas para as agricultora rurais e suas famílias, o presidente Lula assinou 8 decretos importantes durante o ato de encerramento da Marcha das Margaridas:
1. Decreto Quintais Produtivos para mulheres rurais (90 mil quintais produtivos)
2. Decreto Seleção de Famílias para Reforma Agrária (Pontuação diferencia para famílias chefiadas por mulheres)
3. Decreto institui Comissão Nacional de Enfrentamentamento à Violência no Campo
4..Decreto institui GT Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural
5. Decreto institui Programa Nacional de Cidadania e Bem Viver da Mulher Rural (Novo PNDTR)
6. Decreto institui Pacto Nacional de Prevenção ao Feminicídio
7. Decreto retoma Política Nacional ao Trabalhador Rural Empregado
Para a assistente social, dirigente da CUT/SE e da Fetam, Itanamara Guedes, as duas principais conquistas da marcha foram: a inclusão/prioridade das mulheres no plano emergencial da reforma agrária, assegurando a regularização do título da terra e a assistência técnica; e o Pacto de prevenção ao feminicídio estruturando a rede de proteção e combate à violência contra a mulher.
"A marcha aconteceu no momento de reconstrução do Brasil, e este país só será reconstruido se tiver a participação das mulheres, o combate à violência e ao feminicidio, e a inclusão da pauta das mulheres nas políticas públicas", afirmou Itanamara.
Margaridas da Educação
Além das trabalhadoras rurais, a delegação de Sergipe contou com a presença de assistentes sociais, trabalhadoras da Embrapa, da Codevasf e com a presença de muitas professoras.
A professora Adenilde Dantas, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT/SE, afirmou que: “a realização da Marcha das Margaridas foi um marco importante na reconstrução do nosso país, pois mostrou a força das mulheres trabalhadoras e seu papel fundamental na luta por um mundo melhor e mais justo, onde mulheres sejam livres para escrever sua própria história e respeitadas nas suas diferenças”, declarou.
A construção da 7ª Marcha das Margaridas também foi marcada por histórias de solidariedade feminista. Em Sergipe, teve brechó itinerante com o trabalho de Cláudia Oliveira (CUT/SE), de Joelma Dias (Marcha Mundial das Mulheres), de Quitéria Santos (Sindoméstico e dirigente da CUT/SE), entre outras professoras e dirigentes sociais que se esforçaram para angariar fundos, custear os ônibus e alimentação durante a viagem para o maior número possível de 'Margaridas' poder estar presente na capital federal.
Rumo à construção da autonomia e fortalecimento da dignidade das mulheres agricultoras rurais do Brasil, a 7ª Marcha das Margaridas alcançou enormes vitórias e representou um enorme passo a frente nesta longa luta da mulher camponesa brasileira.
Crédito Foto de Capa: Marcha Muncial das Mulheres