SINPSI fala sobre saúde mental, luta antimanicomial e CAPS em Sergipe
Publicado: 21 Maio, 2025 - 12h43 | Última modificação: 21 Maio, 2025 - 13h01
Escrito por: Iracema Corso

O Dia Nacional de Luta Antimanicomial, 18 de maio, foi instituído em 1987 durante um encontro de trabalhadores da saúde mental com o lema ‘Por uma sociedade sem manicômios’ que aconteceu em São Paulo na cidade de Bauru. A data foi instituída como dia de lutas pela reforma no sistema psiquiátrico.
A luta antimanicomial começou a partir da denúncia de violações de direitos humanos nos manicômios desde os anos 1970. Sindicatos, trabalhadores da saúde mental, pessoas que já foram internadas e seus familiares se uniram para impulsionar mudanças urgentes neste sistema.
A sociedade em que vivemos é um ambiente catalisador de doenças mentais. Isso é evidente pelo nível de estresse elevado na luta pela sobrevivência que é imposto aos indivíduos, o aumento da competitividade no mercado de trabalho, a pressão do desemprego, as cobranças e imposições sociais, entre outros. Assim, o movimento político que impulsionou a luta antimanicomial partiu da compreensão de que o sofrimento mental não é apenas sobre quem passa por ele, mas diz respeito à sociedade em que se vive.
Aproveitando esta data especial, a CUT Sergipe (Central Única dos Trabalhadores) conversou com Daiana Alves, presidenta do SINPSI (Sindicato dos Psicólogo de Sergipe), sobre a conjuntura atual de amparo psicossocial oferecida aos usuários dos CAPS (Centro de Apoio Psicossocial) no estado de Sergipe.
CUT/SE- Qual a importância dos CAPS enquanto modelo de atendimento psicológico e psiquiátrico?
Daiana Alves SINPSI - Os CAPS surgiram em 2001, através da Lei 10.216, com a Reforma Psiquiátrica visando promover cuidados intermédios entre o atendimento ambulatorial e a internação hospitalar, com foco na reinserção social e na autonomia das pessoas atendidas, visando o cuidado de saúde mental em liberdade, sem exclusão social e comunitária, bem como a fim de acabar com as violações de direitos que existiam nos hospitais psiquiátricos. O atendimento é realizado com equipes multidisciplinares e interdisciplinares, no qual oferta atenção e cuidado a partir da necessidade integral de cada pessoa através de atividades individuais e coletivas, distante do que era ofertado no modelo hospitalocêntrico no qual era ofertado atendimento com práticas que violam os direitos humanos, além de utilizar adotar o tratamento estritamente medicamentoso.
CUT/SE - Quantos CAPS existem em Aracaju e em Sergipe?
Daiana Alves SINPSI - Há seis Centros de Atenção Psicossocial em Aracaju. No estado de Sergipe, além de Aracaju apenas 28 municípios dispõe de CAPS para atendimento da população. Cerca de 45 municípios sergipanos não dispõem de CAPS.
CUT/SE - Qual o papel da família neste processo?
Daiana Alves SINPSI - O apoio da família à atenção e ao cuidado em saúde mental é fundamental, principalmente quando esta tem um vínculo e referência para a pessoa que tem transtorno mental. Vale ressaltar, que a participação das famílias nas atividades promovidas pelos CAPS - seja no grupo com as famílias, seja com a comunidade - é de suma importância e também fazem parte do cuidado integral preconizado pela Política Nacional e Atenção e Cuidado de Saúde Mental.
CUT/SE - Quais os principais desafios para a implantação satisfatória desta política pública de atenção à saúde mental?
Daiana Alves SINPSI - Faltam principalmente investimentos federais, estaduais e municipais para que sejam ampliadas as unidades dos CAPS e contratadas (preferência por concurso público) as equipes. Lembrando que o desmonte da política nacional de Saúde Mental iniciou-se em 2016 com a estagnação do ritmo de implantação dos serviços de base comunitária, incentivo à internação psiquiátrica e o financiamento das chamadas "comunidades terapêuticas", implicando no retrocesso da Reforma Psiquiátrica.
CUT/SE - De forma geral, como você avalia a política pública de saúde mental que é oferecida à população sergipana?
Daiana Alves SINPSI - Insuficiente. O retrato disso está nas filas de espera imensas no SUS para atendimento psicológico, o alto índice de pessoas com depressão e outros transtornos, além do aumento do consumo de remédios controlados, das drogas legalizadas (álcool, cigarro e medicamentos controlados) e das não legalizadas (principalmente as estimulantes - cocaína e crack). Vale ressaltar, que o cuidado de saúde mental se dá pela prevenção, promoção e cuidado continuado. A falta de estrutura, financiamento e orçamento ou público para implementação e ampliação dos CAPS resulta no aumento das vulnerabilidades sociais das pessoas que sofrem sem cuidado da saúde mental, inclusive crianças e adolescentes. Portanto, urge que o governante estadual também dê suporte aos municípios para que seja ampliada a oferta de serviços de saúde mental no interior do estado no modelo da reforma psiquiátrica, através do atendimento em Centros de Atenção Psicossocial.
CUT/SE - Qual o nível de conscientização da sociedade?
Daiana Alves SINPSI - Infelizmente a sociedade não tem o conhecimento amplo sobre a importância dos CAPS na vida de todas as pessoas que têm transtorno mental. E um dos fatores que corroboram para isso é a falta de investimentos e de interesse do poder público para promover, fomentar e ampliar a rede de atendimento nos CAPS.
Crédito Fotos: SINPSI
Crédito imagem: CUT Brasil