Escrito por: Iracema Corso

Trabalho doméstico hoje e heranças do trabalho escravo

Como o racismo é centro dos problemas sociais enfrentados no Brasil, ele pode ser observado a partir do machismo e suas consequências concretas na vida da mulher trabalhadora negra de Sergipe e do Brasil.

Com forte herança da cultura escravocrata brasileira, 92% do trabalho doméstico é feito pelas mãos de mulheres. Entre as trabalhadoras domésticas, 65% são negras e recebem 20% menos do que as trabalhadoras brancas. A maioria trabalha sem carteira assinada e tem mais de 40 anos de idade, conforme matéria divulgada pela Rede Brasil Atual.

Com quase 10 anos de aprovação da PEC das Domésticas, a categoria enfrenta muitas dificuldades para fazer valer seus direitos trabalhistas. Entre os obstáculos para que seus direitos sejam cumpridos estão: o racismo, a herança escravocrata junto ao capitalismo predador que explora o trabalhador ao máximo e força diariamente a perda de direitos trabalhistas.

A vida das trabalhadoras domésticas, que nunca foi fácil, piorou entre os anos de 2019 e 2021. De acordo com o IBGE, o desemprego aumentou. Em 2019, haviam 6,2 milhões de trabalhadoras domésticas e em 2021 o número de trabalhadoras caiu para 5,7 milhões. Neste período até o rendimento médio das trabalhadoras domésticas caiu de R$ 1.016 para R$ 930.

Comida na Mesa, Direito à Creche e à Casa Própria

No dia-a-dia do sindicato, Maria Aparecida Marques, presidenta do SINDOMESTICO/SE, vê esta triste realidade apresentada através das estatísticas da fome, do desemprego e dos patrões que insistem em não cumprir os direitos das trabalhadoras e trabalhadores domésticos conquistados e transformados em lei.

Segundo Aparecida, muitas trabalhadoras domésticas desempregadas e que estão passando fome procuram o sindicato em busca de ajuda e de emprego.

“A trabalhadora doméstica de Sergipe está sofrida pela falta de trabalho. Chegam com muita necessidade, até o dinheiro da passagem para procurar o trabalho, muitas não têm. Por isso os políticos precisam agir em favor das trabalhadoras domésticas de Sergipe. Os direitos não estão sendo cumpridos. Hoje a trabalhadora domestica não tem o emprego e nem tem como pagar um aluguel. Como elas vão poder pagar um aluguel de r$ 400 ou R$ 500, se ela não consegue nem uma diária? Então precisam de casa própria, creche com berçário e os nossos direitos cumpridos”, afirmou Aparecida Marques.

Trabalho Escravo Contemporâneo

Dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT/SE) e do SINDOMESTICO/SE, Quitéria Santos participou da XV Reunião Científica Trabalho Escravo Contemporâneo e Questões Correlatas, promovido pelo Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo, de 16 a 18/11. A atividade contou com o apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe (ADUFS).

Dentre os debates foram abordados o Trabalho Escravo Contemporâneo; Tráfico de Pessoas; O combate ao Trabalho Escravo Contemporâneo: Uma Questão Interdisciplinar; Gênero, Trabalho Doméstico e Escravidão Contemporânea e o Trabalho Doméstico Análogo ao escravo e sua Contribuição na Reprodução do capital.