Unidas em defesa das mangabeiras de Aracaju
No Dia Internacional da Mulher, movimentos sociais, sindicatos e centrais sindicais fortalecem a luta em defesa da Reserva Extrativista da Mangaba
Publicado: 09 Março, 2022 - 13h52 | Última modificação: 09 Março, 2022 - 17h53
Escrito por: Iracema Corso
Com os pés fincados na areia, solo da Reserva Extrativista das Mangabeiras, começaram os protestos do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, em Aracaju, no bairro 17 de Março. Região da Mangaba é como é conhecida a Reserva Extrativista, onde originalmente existiam milhares de pés de fruta, e que hoje sofre a ameaça de extinção pela derrubada constante das árvores para a construção de um conjunto habitacional.
Em frente ao cajueiro derrubado ilegalmente na última segunda-feira, dia 7, a senhora Rosenaide de Sá – catadora de mangaba que há 40 anos sustenta sua família através do extrativismo na região da mangaba – contou um pouco de sua história.
“Estou aqui nas mangabeiras a mais de 40 anos, não viemos aqui invadir terra de ninguém, mas a tentação de Edvaldo (prefeito de Aracaju) é de destruir todas as mangabeiras. A maioria das pessoas no bairro Santa Maria vive de catar mangaba e vender na feira para sobreviver, se derrubar essas mangabeiras, de onde essas pessoas vão tirar o pão de cada dia? Como vão sustentar seus filhos?", ”questionou dona Rosenaide.
A senhora Rosenaide de Sá também criticou a falta de apoio do prefeito à população necessitada do bairro 17 de março e do Santa Maria durante a pandemia da Covid. Com olhos cheios de lágrimas, a idosa extrativista também denunciou a humilhação de faltar farda da escola pública e os livros didáticos para as crianças do bairro 17 de Março.
Em frente ao território preservado pela companheira Maria, também extrativista da mangaba, a senhora Rosenaide revelou: “tiraram 70 pés de mangabeira, fora os de adicuri e os cajueiros da região de dona Maria. O nosso coração está plantado aqui nessas mangabeiras. Dona Maria foi ameaçada aqui e na casa dela, por isso até hoje Dona Maria se encontra doente pelas ameaças que sofreu e por 6 anos não pôde catar mangaba. É essa área que estão terminando de derrubar para construir as casas. Olha aí os tratores, estamos muito tristes...”, apontou dona Zenaide mostrando a região já sem árvore para todas as mulheres presentes no protesto.
Secretária da Mulher da Central Única dos Trabalhadores (CUT Sergipe), Cláudia Oliveira reforçou o recado de dona Rosenaide. “A cultura da mangaba que em Aracaju está sendo destruída por essas máquinas. A gente pede que os governantes parem as máquinas e escutem essas mulheres extrativistas. Precisamos da zona de amortecimento de onde já foram arrancadas diversas árvores. Assim a Reserva Extrativista não tem como se manter. Como professora, quero dizer da importância da educação, pois sem ela a gente não consegue mudar a sociedade”, afirmou Cláudia Oliveira.
Sara do Ó, coordenadora geral do SINDIJUS (Judiciário), participou do ato na certeza de que é preciso perseverar e jamais desistir da luta. “Foi acertada a decisão de realizar o ato do 8 de março junto à comunidade extrativista de catadoras e catadores de mangaba porque levou a certeza de que eles não estão sós. Várias entidades estiveram presentes trazendo sua solidariedade, e isso é muito importante para quem está sofrendo em ver seu sustento ser ameaçado pelo projeto habitacional da administração de Edvaldo Nogueira que insiste em avançar sobre a reserva extrativista. Há décadas a região é cuidada, protegida e respeitada pela comunidade extrativista que hoje vê o concreto ameaçar sua existência”.
A professora Joelma Dias, dirigente da CUT/SE, observou que o protesto foi um marco na luta pelo sustento das mulheres mangabeiras. “É pela vida de todas as mulheres, principalmente as mangabeiras, que estamos nesta luta hoje para manter a região da mangaba, meio de subsistência de 250 pessoas. A área verde da nossa cidade está se acabando, então precisamos lutar contra o massacre ao meio ambiente e, no Dia Internacional das Mulheres, temos muito que lutar para resistir à opressão, ao machismo, à misoginia e ao feminicídio, este que infelizmente na nossa cidade só aumenta”.